19 de dezembro de 2010

A Rede Social (2010)

O Facebook é um sucesso. O site de relacionamentos criado por Mark Zuckerberg possui mais de quinhentos milhões de usuários. É uma munda de gente. E o sucesso atrai a atenção das pessoas. Todos querem saber como o sucesso aconteceu. Todos querem fazer parte de um sucesso.

Se tiver alguns ingredientes básicos, como traições e roubo de ideias alheias, para apimentar a história, melhor ainda. Alguém disse uma vez que por trás de uma grande fortuna sempre há um grande crime. Afinal, não se faz meio bilhão de amigos sem fazer alguns inimigos.

Sejamos sinceros, o filme e os acontecimentos narrados não possuem nenhuma novidade. Trata-se de percalços que ocorrem rotineiramente, amizades que terminam, ideias que são roubadas, intrigas e muito conflito de egos. A história, no seu âmago, é um mero retrato do cotidiano, mas elevado à milésima potencia  por causa do sucesso do Facebook.

Você rouba mil reais, investe esse dinheiro e o transforma em um bilhão de reais. Qual deve ser o valor da indenização pelo roubo inicial?


Bilionários acidentais

O livro, que serviu de base para o roteiro do filme, possui um título que define bem toda a situação que envolve a criação e o estrondoso sucesso do facebook: A sorte de criar o produto certo na hora certa.

“Sorte? Isso parece ressentimento.” Pode perguntar você, caro leitor. Afinal, atribuir tamanho sucesso somente ao acaso desmerece toda a genialidade e trabalho que estão por trás do facebook.

É claro que há genialidade, é claro que há muito trabalho e muito esforço. E é claro que há também muita sorte, principalmente em relação ao timing. O serviço foi lançado na hora certa, que favoreceu seu Tsunâmico crescimento.

Quantos sites e serviços existem na internet? O maior ou menor sucesso deles depende exclusivamente de sua qualidade e genialidade? Estou certo que não. Não basta ser ótimo, tem que ter sorte. Seguindo o caminho oposto, é correto também afirmar que a sorte nunca chega se você não for bom no que oferece.

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Curiosidades sobre o filme

O filme foi dirigido por ninguém menos que David Fincher, de Seven, Clube da Luta, Jogo da Vida (excelente e pouco conhecido) e Benjamin Button, para citar alguns. Isso já serve de indício de que A Rede Social possui algum mérito.

As atuações estão muito boas, convincentes. Todos os protagonistas, especialmente Zuckerberg e Saverin, estão muito bons. Eu achei o Zuckerberg exageradamente parecido com Sheldon Cooper: Um gênio matemático portador de uma moderada sociopatia, algo que beira o autismo.

Os Gêmeos Winklevoss foram interpretados por dois atores que não tem nenhum parentesco, e o rosto de um deles foi digitalmente sobreposto ao outro, para ficarem iguais.*

Mark Zuckerberg não queria assistir ao filme inicialmente, mas terminou indo ver com alguns de seus funcionários. Depois ele comentou que, apesar do filme conter algumas imprecisões, eles acertaram nas roupas do seu personagem.*

A cena inicial do filme, que mostra a conversa e o fim do namoro de Mark Zuckerberg, precisou de noventa e nove takes para ficar satisfatória.*

Visto no IMDB*

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No frigir dos ovos

Antes de ser um filme sobre a criação de um site de sucesso, o filme é – para mim – sobre a criação, o desenvolvimento e a destruição de relações sociais. O antagonismo existente no fato de uma pessoa tão antissocial ter criado a maior rede social do mundo, e como isso afetou suas relações sociais.

A cena final, dele atualizando constantemente a página do site, à espera da aceitação de uma amizade, é a caricatura que contém a mensagem principal do filme.

Nada exuberante ou encantador, mas feito com capricho e precisão. Merece ser visto, mas se não for visto não será nenhum crime.

16 de dezembro de 2010

Separados por um topete

Você sabe qual a diferença entre Ari Pargendler e Roberto Justus? O topete.

Enquanto o genro da garota de Ipanema ostenta uma juba prateada de todo o tamanho, o presidente do Superior Tribunal de Justiça do Brasil cultiva uma brilhante careca. Embora os dois sejam tão diferentes nos assuntos capilares, parecem adotar o mesmo discurso com seus subordinados.

Você está demitido!

É óbvio que o famoso bordão imortalizado por Justus em sua versão tupiniquim do reality show americano ‘The apprentice’ é a fala de um personagem. O chefe durão, ríspido e intolerante que demite e humilha seus empregados não é mais que uma farsa, uma atuação cuja finalidade é entreter o espectador. Os participantes que ali estão, e se submetem a tal tratamento, o fazem conscientemente e, diga-se de passagem, ganham muito bem para isso. São personagens também. Estão todos atuando.

Roberto Justus



A vida imita a arte

Por um breve momento, no subsolo do STJ, o presidente daquela côrte foi tomado por um espírito Justiniano que, em vez de lhe dar cabelo, lhe deu um sentimento de ira. Segundo relatos de uma testemunha e da própria vítima, um estagiário negro - escolhido em uma seleção dentre mais de duzentos candidatos, Ari perdeu a compostura ao perceber que, enquanto fazia uma transação bancário no caixa automático, uma pessoa aguardava atrás dele.

Sentindo-se invadido em sua privacidade, embora em local público, pôs-se a esbravejar e a gritar como um ‘coronel’ do século XIX, sempre pronto a fazer uso da chibata. “Sai daqui. Vai fazer o que você tem quer fazer em outro lugar”.

Após ser contestado pelo estagiário, que disse estar aguardando atrás da linha demarcada no chão, deixou a ira transbordar e proferiu a sentença em caráter inquisitório e sumário: “Sou Ari Pargendler, presidente do STJ, e você está demitido, está fora daqui”.

Ari Pargendler



Uma comédia de erros

A situação, lamentável por natureza, torna-se muito mais grave em função das pessoas envolvidas. A agressão partiu de uma das maiores ‘otoridades’ do país e foi contra uma pessoa indefesa, pobre e negra. A cena, antes de ser um fato isolado, é um retrato da sociedade. É a repetição de um cotidiano cruel e sufocante a que as pessoas comuns são submetidas.

Lamentável também é a perpetuação dessa situação patrocinada por quem tem o poder de mudar alguma coisa. Me refiro à gerência da agência do Branco do Brasil, onde ocorreram os fatos. Ao ser comunicada para apresentar as imagens do circuito interno de segurança, que serviriam de prova material do que realmente aconteceu, não forneceu as imagens, alegando que houve falha no sistema de vigilância e nada foi gravado.

Se o agredido fosse o ‘coroné’, ou Roberto Justus, o sistema também teria falhado? E estaria o estagiário em liberdade à essa hora?

Marco Paulo dos Santos

 

 

links externos:

http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,vou-vivendo-doutor-ari,649404,0.htm

http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI4847729-EI7896,00-STF+derruba+sigilo+de+processo+de+estagiario+contra+Pargendler.html

8 de dezembro de 2010

Coincidências do Amor (2010)

imageComédia romântica é um estilo bem limitado de filme, que sofre por causa do seu final que é sempre o mesmo. Além desse problema inerente ao gênero, Coincidências do Amor (The Switch) é um filme abaixo da média, extremamente artificial e nada esforçado.

Para ser sincero, o filme é tão fraquinho que estou até com dificuldade de lembrar dele para escrever, e fazem apenas três dias que assisti. Tudo que me lembro é da sensação de tédio ao ver um filme estilo fast-movie®.


Fast-movie® é um termo que usarei doravante* neste blog para classificar os filmes que, se fossem comida, seriam um sanduíche qualquer do Mc Donald’s: Industrializado, feito sem capricho nem esmero, sempre o mesmo gosto de plástico e isopor e que não mata a sua fome, além de prejudicar a saúde se você consumir com frequência.

Doravante é um termo utilizado no meio jurídico, e significa ‘de agora em diante’.

Como todos deveriam saber, e como foi muito bem explicado no filme Lisbela e o Prisioneiro, não é o final que faz uma boa comédia romântica, afinal todas terminam do mesmo jeito. Quando assistimos a um filme desse gênero, já sabemos tudo que vai acontecer. O que nós queremos ver é a forma como tudo acontece.

Por conta disso, mais importante que o roteiro, são as atuações e a direção, que dão vida à história. E nisso o filme peca.

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Atuações no modo automático

Jeniffer Aniston é lindérrima (huum, boiola) e, sim, uma ótima atriz na minha opinião. Sei que minha admiração por ela é parcial, pois ela foi um dos seis personagens principais de Friends, a série de TV que eu mais gostei. Mas ela se saiu muito bem no drama Fora de Rumo em uma atuação totalmente fora do seu universo cômico.

Mas ela está muito sem graça nesse filme, e é apenas um rostinho famoso e bonito cujo maior serviço à produção foi emprestar seu nome e não sua atuação.

Da mesma forma Jason Bateman, que teve seu ápice em Juno (dentre os seus filmes vistos por mim), Mostra a que veio: Um ator ordinário para filmes ordinários.

O elenco coadjuvante não teve nem mesmo chance de atuar, de tão herméticos que eram os personagens. Cabe aqui apenas destacar uma sincera tristeza por ver Juliette Lewis, outrora brilhante em Cabo do Medo e Assassinos por Natureza, se entregar a algo tão tosco como seu personagem-quase-nulo.

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O que há de bom

O maior mérito do filme foi ter me inspirado a criar a categoria fast-movie®, tornando-se seu primeiro representante. Há também a beleza da sempre Rachel Green, que não me canso de admirar (acho que Brad Pitt fez besteira deixando-a pela Angelina ‘big lips’ Jolie.

No frigir dos ovos

É um filme que não vai fazer falta. É preferível ver um bom filme repetido do que esse pela primeira vez.

30 de novembro de 2010

Os fantasmas se divertem

Para Freud, a essência do sonho é a realização de um desejo infantil reprimido. Para Jung, os símbolos podiam expressar um desejo de autocompreensão.

Eu tenho alguns sonhos recorrentes. Costumava ter cinco, agora tenho dois.
Sonhos recorrentes são aqueles cujos elementos se repetem. Sonhos em que estamos sempre nus, ou sempre caindo, ou sempre fugindo, sempre em uma situação que nos aflige.

Eu penso que os sonhos recorrentes são uma categoria peculiar de sonho. Para mim, são resultado de conflitos internos não resolvidos, fantasmas que – inutilmente – tentamos esconder, quando deveríamos exorcizá-los definitivamente, por meio da compreensão. Todos temos os nossos fantasmas que, vez ou outra, retornam para no assombrar.

Eu acredito que é possível exorcizar definitivamente esses fantasmas e resolver os conflitos internos que nos oprimem. Mas creio que essa tarefa não é fácil e requer sacrifícios que quase nunca estamos dispostos a cometer. E dessa forma, em vez de remediar as causas, lidamos com as consequências, e levamos a vida assim, oprimida e sofrida.

O espelho e os sonhos são coisas semelhantes, são a imagem do homem diante de si próprio.
José Saramago

Os fantasmas estão aí, ao nosso redor, pairando sobre nossas vidas como sombras etéreas que, de acordo com o nosso estado de espírito (ou, para melhor dizer, ânimo) se afastam e se escondem ou se aproximam e se divertem com nossa reação horrorizada e impotente diante de algo que, em última análise, é o nosso próprio reflexo.

Carl Jung

três de cinco

Um dos sonhos recorrentes que eu tinha, e que era o mais comum, era que eu estava sempre dentro de um carro, dirigindo em uma rua, em baixa velocidade. E eu nunca conseguia frear o carro e fazê-lo parar. Eu tentava pisar no freio com toda a força, mas minhas pernas não tinham força suficiente para parar o carro. Eu pisava o mais forte que podia, mas não era suficiente, e o carro nunca parava e sempre terminava por bater em algum obstáculo. A sensação de desespero e impotência nesse tipo de sonho era absurdamente real e agoniante.

Os outros dois sonhos que eu costumava ter e não tenho mais, são variações do mesmo sonho anterior e, para mim, eram resultado das mesmas causas. Na segunda versão do sonho recorrente, eu sempre tentava ou precisava correr, pois estava em uma corrida ou era perseguido. Contudo, por mais força que eu fizesse, era como se eu corresse em câmera lenta ou dentro de uma piscina com água pela cintura. Nesse sonho eu nunca era pego e nunca terminava de correr. A agonia e a impotência eram infindáveis.

Por fim, o terceiro sonho que eu tinha era que eu segurava um revólver e tentava disparar um tiro apertando o gatilho mas, por mais força que fizesse, nunca conseguia efetuar o disparo. Mais uma vez os sentimentos era uma mistura de impotência e agonia.

Hoje eu entendo que esses três sonhos tinham as mesmas causas, que era o fato que ter comportamentos e vontades que julgava imorais e, contudo, não conseguia conter o impulso de agir ou pensar. Durante certo tempo da minha vida, eu fui oprimido por uma filosofia que se baseava na culpa. E assim, a maioria das minhas vontades, impulsos e pensamentos eram considerados transgressões, apesar de serem parte incontestável de mim.

A partir do momento em que comecei a questionar essa filosofia e, consequentemente, a abandoná-la, esses sonhos nunca mais se repetiram, pois esses conflitos deixaram de existir. Esses fantasmas não encontraram mais abrigo na minha mente e se foram.

Dois que ficam

Tudo aquilo que não enfrentamos na vida acaba se tornando o nosso destino.
Carl Jung

Ainda restam dois sonhos, cujos espectros me visitam em algumas noites. Esses ainda se divertem às custas da minha inércia e da minha fragilidade. por enquanto.

18 de setembro de 2010

O andar do bêbado

image Alerta. Esse post é chato pra cacete e não diz muita coisa.

Quais são os fatores que determinam o sucesso ou fracasso na profissão, nos relacionamentos ou qualquer outra área da vida? Quando surge uma idéia genial, será que apenas a genialidade dessa idéia garante o seu sucesso, ou existem outros fatores tão ou mais importantes capazes de traçar o seu destino?

Para sorte de uns e azar de outros, o talento ou capacidade inata é apenas um dos ingredientes que compõe o sucesso (seja qual for a sua definição de sucesso). Ao lado desta caminham dois outros fatores determinantes no desenrolar de qualquer situação - seja uma partida de pôquer, sua carreira profissional ou o seu casamento. Esses fatores são a perseverança e a sorte ou, melhor dizendo, o acaso. E é sobre este último que eu gostaria de rascunhar algumas maltraçadas palavras.

Pra início de conversa, o que é o acaso?

Imagine que você está andando na calçada e encontre no chão uma nota de cinquenta reais. Nossa, que legal! Você está com sorte. Você está lá na calçada parado, olhando pra cara da onça, todo feliz. Nesse instante um carro desgovernado invade a calçada e passa por cima de você e da nota de cinquenta reais.

Os dois eventos acima são exemplos de manifestação do acaso. O acaso é qualquer evento que ocorre sem uma causa ou explicação aparente, ou que fogem à nossa previsão.
Isso não significa que tais acontecimentos não possuam uma causa. É certo que possuem, mas são tantas e tão complexas que não podemos calcular nem prever a sua ocorrência. Quando jogamos um dado, o resultado depende de inúmeros fatores: a posição inicial, a velocidade, a altura, a aceleração, o peso do dado, o material do dado e da superfície sobre o qual é atirado, o coeficiente de atrito, entre muitos outros que são desconhecidos.

Então, num gesto de resignação, atribuímos à sorte, ao azar, ao acaso e até mesmo a Deus ou à posição das estrelas a ocorrência de fatos sobre os quais não possuímos nenhum conhecimento prévio.

Deus não joga dados

Se existisse uma pessoa ou uma máquina que conhecesse todos os fatores envolvidos em um lançamento de dados e tivesse controle sobre esses fatores, então o resultado poderia ser calculado e alcançado de acordo com a vontade dessa pessoa e, nesse momento, o acaso deixaria de existir nesse lançamento de dado.

Einstein disse uma vez que “Deus não joga dados”.
Deixando de lado a discussão sobre a fé de Einstein ou sobre a existência de Deus, é possível admitir que o acaso, de fato, não existe, e é somente uma ilusão que criamos como consequência da nossa incompreensão ou ignorância acerca de todos fatores que compõem um evento qualquer.

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Tudo o que acontece no universo, dos nossos sonhos até os buracos negros, dos movimentos das marés à banda restart, tudo tem uma causa. Porém, as causas conhecidas desses acontecimentos são uma parcela ínfima de todas as causas existentes, nós enxergamos apenas a ponta do iceberg, e todo o restante que fica submerso no desconhecido, inacessível ao nosso conhecimento, chamamos de acaso (ou vontade de Deus).

Ignorância e prepotência

Não obstante as fatos da vida terem causas em sua maioria desconhecidas, nós temos a tendência quase irresistível de nos apegarmos com vigor somente àquilo que conhecemos e desprezarmos o fato de que existe algo além de nossa compreensão. Assim, nós interpretamos o mundo em nossa volta por meio de uma base insuficiente de informações e, consequentemente, chegamos a conclusões equivocadas.

Indo além, é fácil resistirmos à idéia de que muitas coisas ocorrem à revelia do nosso conhecimento pois, por uma característica da natureza humana, precisamos nos sentir sempre no controle de tudo ao nosso redor. Nós queremos ter explicação para tudo (isso é bom) e achamos que tudo se explica com base no que já conhecemos (isso é ruim).

Assim, negamos a importância do acaso nas nossas vidas. Afinal, quem fica confortável sabendo que o seu emprego, a pessoa com quem é casada há tantos anos, a roupa que está vestindo e até o que almoçou hoje depende tão pouco da sua vontade?

No frigir dos ovos

O acaso está mais presente em nossas vidas do que podemos perceber e bem mais do que gostaríamos que estivesse. Afinal, é fácil se sentir desconfortável com a idéia de que não temos tanto controle assim das nossas próprias vidas. Mas, a despeito do que achamos ou gostaríamos, o acaso está aí agindo como um verdadeiro deus da probabilidade direcionando nossos passos.

Esse post leva o título do livro homônimo, de L.Mlodinow, que trata do assunto com muito mais propriedade e profundidade.

26 de julho de 2010

Diário de um Banana (2010)

Não é fácil ser criança. Não é nada fácil estar naquela fase entre a infância e a adolescência, na qual somos forçados a escolher constantemente entre crescer ou permanecer na inocência. Pena que o filme é uma merda e não mostra isso direito.

Diary of a Wimpy Kid é um filme baseado em um romance em quadrinhos de mesmo nome, e de muito sucesso nos Estados Unidos. Trata-se da história de um moleque lá pelos seus dez, onze anos, um pouco precoce, que tem dificuldades em se adaptar à sua entrada na pré-adolescência. Blá, blá blá…

Vamos aos fatos

Filminho chato pra cacete, raso no conteúdo, fraco nas interpretações, abusa de lugares comuns e soluções pra lá de fáceis. É um filme para crianças, mas daqueles que um adulto não consegue assistir. Só para fazer uma comparação (pra não dizer uma surra) a série de TV Everybody Hates Chris, que aborda o mesmo tema, dá de mil a zero no filme.

O protagonista da estória, o tal do Greg Heffley, é – com o perdão da sinceridade – um baita de um manézinho. O moleque só faz merda o filme todo, e é egoísta e sacana ao extremo. E o pior é as atitudes idiotas dele não são nada justificáveis. Ele não conseguiu criar nenhum vínculo convincente e muito menos despertar a menor empatia de minha parte. Aí só restou torcer o nariz e assistir o filme com um certo desgosto.

Um filme sem supressas

O pior defeito do filme é não conseguir surpreender o expectador em momento algum. Tudo o que acontece é previsível demais, fácil demais. Exemplos (nem vou me dar ao trabalho de evitar uns spoliers, na verdade é um favor que te faço): Quando Greg se tranca no quarto para fugir do seu irmão mais velho, que fica esperando na porta, é óbvia a piadinha infame do sapato vazio. quando Greg vai fazer a audição para o musical da escola, e todos começam a cantar muito mal, é óbvio que ele iria de destacar e cantar bem. E por aí vai…

O elenco de suporte é fraco, muito fraco. Não tem nenhum personagem que não seja extremamente caricato, e as piadas e gags são de doer os ovos. A tal história do cheese touch, e seu desfecho, é a coisa mais imbecil, e chega a dar raiva de ver.

No frigir dos ovos

Não assista esse filme, se você já passou dos 10 anos. Zoo-wee-mamma!

26 de junho de 2010

Fiquem com Deus

Sábado, 26 de Junho de 2010. Enquanto escrevo essas maltraçadas linhas no meu notebook, em cima da cama no meu humilde lar em Taguatinga, ocorre na Praça em frente um culto em homenagem à Maria, que se resume em várias velhas lunáticas gritando e um homem falando muito alto no microfone, com o intuito de atingir pelo volume aqueles que não estão interessados nas merdas que a religião prega.

Fulana de Tal, rogai por nós, Fulana de Tal, rogai por nós, Fulana de Tal, rogai por nós. Esse é o mantra dos Aqui-tem-um-bando-de-loucos-por-ti-Maria. Maria, Jesus, Deus, Gadu, Shiva, Alah. Todas essas divindades criadas pelo homem servem apenas a um intuito: Nos fazer trazer uma esmagadora sensação de culpa

Pare e pense. Qual é a mensagem principal da religião? Que você é um merda. Você é um pecador miserável, um bosta, e por sua causa um cara morreu, antes mesmo de você nascer. Viu como você é ruim? A Religião só serve pra isso, nos deixar com um irremediável complexo de culpa.E disse Jesus: Chupa que é de uva.

A religião é responsável por todas as maiores merdas que já ocorreram na história da humanidade. Cruzadas, Inquisição, Guerras, Terrorismo, Massacres e muito, muito ódio no coração das ovelhinhas.

Enquanto as pessoas na praça estão cantando suas canções que dizem o quanto são ruins, malvados e necessitados da ajuda de um cara que ninguém nunca viu, eu me lembro de uma outra canção, de John Lennon: Imagine que não exista nenhum paraíso, é fácil se você tentar, Nenhum inferno abaixo de nós, Sobre nós só céu. Imagine todas as pessoas Vivendo para hoje.

Fiquem com Deus.

22 de junho de 2010

Unthinkable (2010)

Existem filmes que contam bem histórias ruins, existem filmes que contam mal boas histórias, existem filmes que contam bem boas histórias e, ainda, existem aqueles filmes que vão além, em vez de contar meras histórias, passam mensagens e nos fazem pensar. Unthinkable é um desses filmes. Em vez de nos prender pela curiosidade ou emoção, o filme nos prende pela consciência.

Não é um filme fácil de assistir, e estou certo de que a grande maioria não vai apreciar, por causa de toda a sua violência. É um filme que incomoda, embora o que incomode não sejam as sessões de tortura e sim o dilema vivido pelos personagens, em especial a Agente do FBI vivida por Carrie-Anne Moss - a eterna Trinity de Matrix - dilema que ultrapassa a tela e vem bater direto na nossa cara.

Unthinkable mostra o estado de alerta que acomete os Estados Unidos desde o incidente de onze de setembro. Mostra toda a fragilidade do país apesar dos inúmeros esforços para se manter livre de novas ameaças estrangeiras. Mas o filme não para por aí, e mostra que depois de tanta guerra, tanta ideologia, não existe mais certo ou errado, mocinhos ou bandidos, aliados ou terroristas. Todos são culpados e todos estão errados. Tudo é justificável mas nada se justifica.

 

Terrorismo e Tortura

O filme mostra duas das piores manifestações da covardia do ser humano, a tortura e o terrorismo. Atos cruéis praticados contra pessoas indefesas. E ao mesmo tempo, uma questão é levantada: Há justificativa para tais atitudes? Existem situações onde tais atos são a coisa certa a se fazer? Confesso que eu não me apresso em dar uma resposta a essas questões. O ideal seria que essas questões não existissem, mas o homem é capaz de coisas terríveis.

Não deve haver sofrimento maior do que ficar preso, indefeso, nas mãos de um torturador e sofrer as piores aflições físicas que a mente humana consegue imaginar. Definitivamente a tortura não deveria existir. Mas, e se o torturado for um terrorista? Nesse caso pode? Imagine que um maluco escondeu uma bomba em algum lugar e, se explodir, matará milhares de pessoas. Seria válido torturar esse excomungado para forçá-lo a revelar o paradeiro da bomba? E se mesmo sob tortura ele se negasse a falar, qual a solução? Há algo ainda pior e mais efetivo? Deve haver, mas é algo impensável (Unthinkable, captou?).

O que há de bom

É um filme ousado, que trata de temas delicados e atuais. A produção é competente, embora não seja nada excepcional. Samuel L. Jackson está muito bem em seu papel. O filme tem a capacidade de prender a nossa atenção e nos deixar angustiados, o que é melhor que permanecer indiferente. Além disso, o final conta com uma pequena surpresa que dá um último gás, um sprint, e encerra a história de forma competente.

O que há de ruim

Para quem não estiver preparado, o filme pode ser visto como imoral, excessivamente violento e subversivo. Além disso, o filme é excessivamente americanizado e não abrange de forma consistente os dois lados em conflito, o que poderia causar um dilema ainda maior para o expectador - considerando que a intenção do filme seja nos fazer refletir.

6 de junho de 2010

Robin Hood (2010)

A lenda de Robin Hood é bastante conhecida e já serviu para dar fôlego a inúmeros personagens dos mais diversos livros e filmes. Trata-se do fora-da-lei que rouba dos ricos para dar aos pobres. A história do herói se passa na Inglaterra do século XIII que se encontra órfã do ei Ricardo coração de Leão, um cara muito doido que abandona o país para se meter lá na Palestina e Jerusalém a fim de converter (entenda-se matar e saquear) os muçulmanos infiéis.

Com a ausência do rei, seu irmão mais novo usurpa o trono e começa a aprontar as mais loucas picardias, como aumentar os impostos e maltratar a população, queimando vilas e destruindo castelos e propriedades de quem não paga direitinho. Nesse cenário se levanta Robin de Loxley aka Robin Hood (apelido dado por causa do chapeuzinho com uma pena que o rapaz usava) que, juntamente com seus comparsas, passa a saquear as carruagens reais que ousam atravessar a floresta de Sherwood. Robin Hood é famoso por sua extrema habilidade com o arco-e-flecha, algo semelhante a Légolas de Senhor dos Anéis.

Robin Hood Begins

O que há de diferente e interessante nesse novo filme - mais uma dobradinha Ridley Scott/Russel Crowe, a dupla famosa de O Gladiador -  é que a trama conta a história de Robin antes de virar Robin Hood. O filme conta como tudo aconteceu. Portanto, não é a mesma história do Robin hood encenado por Kevin Costner, por exemplo.

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Além disso, o roteirista teve a liberdade de alterar alguns fatos da lenda original. A principal alteração diz respeito ao próprio Robin, que no filme não é Robin de Loxley o nobre cavaleiro, mas sim Robin Longstride, outra pessoa. Achei interessante a história criada para transformar Robin Longstride em Robin de Loxley, assumindo sua identidade. Isso serviu para conferir mais profundidade ao personagem.

O que há de ruim

O principal defeito do filme certamente é a sua duração. São duas horas e meia de projeção, que testam a paciência de qualquer cristão (ou mulçumano). Não tenho dúvida de que há diversas cenas desnecessárias ou demasiadamente compridas, que poderiam ser encurtadas e até mesmo eliminadas, para favorecer a fluência da história. Por causa disso, o filme se torna um pouco cansativo e monótono, o que faz diminuir seu impacto sobre o expectador.

O que há de bom

Além da boa idéia de ser um filme que pretende contar a gênese de Robin Hood, a produção é muito bem feita, com atuações interessantes dos protagonistas Crowe e Kate Blanchet, que faz o papel de Maid Marion, no caso viúva em vez de maid. Contudo, os personagens coadjuvantes são quase todos rasos e caricatos, como João Pequeno e o próprio rei João, que mais parece um idiota. Contudo o Frei gordinho do hidromel e o Sir Walter de Loxley estão muito bons e suportam satisfatoriamente o enredo.

No frigir dos ovos

É um filme que até vale a pena ver, embora não esteja à altura da filmografia de Ridley Scott, que fez o totalmente excelente Rede de Mentiras em 2008, e do próprio Russel Crowe, o eterno gladiador. Cumpre bem o papel de contar uma história, nada mais.

5 de junho de 2010

Solomon Kane (2010)

Eu não esperaria muito de um filme cujo personagem principal foi descaradamente copiado de Van Helsing, que já é péssimo, mas Solomon Kane surpreende. É realmente uma porcaria. O filme consegue ser medíocre nos três requisitos: Roteiro, direção e atuação.

O argumento do filme é aquele bla bla bla que já vimos milhares de vezes no cinema, a famosa jornada do herói que, em si, não tem nada de ruim é bem explorada em diversos filmes, de Matrix a  Coração Valente. Só que uma história tão batida quanto a do cara que não é nada e derrepente descobre que é a salvação do mundo precisa ter sempre alguma coisa nova a mostrar, e Solomon Kane não tem. Durante toda a trama somos obrigados a acompanhar o Almir Sater Solomon lutando contra umas espécies de zumbis, que são uma mistura dos guerreiros de Mordor com os vampiros de Eu sou a Lenda.

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Não dá pra se sentir cúmplice do protagonista em nenhum momento, mesmo porque a história não segue um ritmo cadenciado, ao contrário, as situações ocorrem de uma maneira nada natural e extremamente artificial. Tudo muito fácil, tudo muito superficial, tudo muito raso.

Solomon quem?

As atuações são todas um desastre. Não tem uma que salva. Mas o pior de todos é sem duvida o James Purefoy, que faz o Salomão. O cara chega a ser ridículo, de tão ruim. Não sei de onde tiraram esse ator, mas ele está à altura da produção.

O que há de bom

O monstro da última cena, embora ninguém saiba de onde veio nem porque estava lá lutando com Salomão, é muito bem feito, apesar de lembrar muito o orc debilóide do Senhor dos Anéis. Vale pela qualidade da computação gráfica.

O que há de ruim

Tudo. então, para ser justo, vou dizer o que há de muito ruim. Trata-se da cena na igreja que tem um padre maluco que cuida de um bando de zumbis no porão da igreja. É ridículo. Tosco. Mal concebido, mal produzido, mal dirigido, mal atuado. É uma piada de mau gosto

Bem, em poucas palavras, não perca seu tempo com isso, a menos que não faça nenhuma questão de coerência ou um pouquinho que seja de coesão. Se uma sucessão de cenas com lutas clichê e efeitos visuais commodities te satisfazem, be my guest.

30 de maio de 2010

The Wolfman (2010)

Parece que as idéias originais abandonaram Hollywood, que já há algum tempo vive de requentar as histórias antigas. Isso não é necessariamente ruim, visto que muitos bons filmes antigos poderiam ganhar novo fôlego com as novas técnicas de efeitos visuais e o avanço da fotografia no cinema. Porém, por algum motivo não muito claro, parece que há uma maldição assombrando os remakes que, frequentemente, desapontam e não atendem às expectativas.

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É o caso de The Wolfman, que pretendia ser o resgate da lenda clássica do lobisomem, para fazer frente às inúmeras releituras e mudanças que sofreu no cinema ao longo das décadas, tornando-se um personagem superficial e caricato como em Van Helsing e Crepúsculo, por exemplo. É uma iniciativa louvável, visto a violência que o pobre lobisomem sofreu durante todos esses anos – até jogador de basquete juvenil ele já foi no cinema. Porém, a superficialidade do roteiro, as atuações negligentes e a falta de criatividade generalizada tornaram essa produção em um filme “mais do mesmo” e que certamente será esquecido tão logo acabe a exibição.

Atuações

Apesar de contar com atores muito bons, nenhum deles consegue convencer e passar a profundidade que foi concebida pelo diretor. Temos um Antony Hopkins nada esforçado, simplesmente recitando as falas sem nenhuma interpretação ao lado do Benício del Toro fazendo sua cara habitual de quem acabou de acordar e está de mau humor. A pior atuação coube a Emily Blunt que fracassa na tentativa de bancar a heroína romântica, embora eu nem a culpe por isso, visto que suas aparições no filme são gratuitas e desconexas. Mas há um certo mal-estar em presenciar o amor forçado que surge entre ela e del Toro. A impressão que tive ao assistir o filme, é que as atuações estavam ali apenas para ocupar o tempo entre as aparições do lobisomem.

O que há de ruim

O filme peca em se firmar excessivamente sobre os efeitos visuais, que hoje são commodities e não representam mais vantagem nenhuma. Apesar da transformação ser muito bem feita, não possui o efeito “uau” necessário para se tornar um elemento que mereça destaque. O diretor abusa dos sustos desnecessários e previsíveis, numa tentativa irritante de manter o espectador em alerta. Porém, o que achei pior no filme foi a participação especial do Smeagol do Senhor dos Anéis. Totalmente copiado e, o pior, desnecessário.

O que há de bom

Apesar de todas os problemas, o filme merece crédito por ser uma tentativa de se manter fiel à lenda do lobisomem. Acho que é só isso.

7 de abril de 2010

Desagravo à preguiça

Se tem um tipo de gente que eu admiro, é o preguiçoso.

A preguiça é uma das maiores qualidades que uma pessoa pode ter. Ser preguiçoso é estar ciente da sua impotência diante da ordem instaurada e não se importar. É dar de ombros. É dizer foda-se.

Ter preguiça é, antes de tudo, tomar uma atitude. O preguiçoso não se aflige, não sofre pelo que não conquistou e não sonha em acumular "riquezas", assim, entre aspas. Afinal, conquistar e acumular dá muito trabalho. E para quê mesmo? Para ter uma boa vida? Mas tem vida melhor que a do preguiçoso?

A preguiça é a característica humana mais injustiçada. É a virtude tomada por vileza. É considerada até um pecado capital (e aqui abro um parênteses para dizer que só pelo fato de ser considerada pecado, já ganha pontos comigo). Ninguém em sã consciência admite ser preguiçoso. Ninguém põe no currículo que adora acordar tarde ou que procrastina habitualmente. Todos se orgulham em dizer como trabalham duro durante dez, onze, doze horas por dia. Se orgulham de não ter um único minuto livre durante seus dias. É academia, é inglês, é cursinho, é o trabalho, são os filhos, são as compras, é o diabo a quatro. Sentem-se santos como aquele cara de Belém (não estou falando do Chimbinha) quando fazem cara de esgotados e murmuram, derrotados, que não têm tempo para nada.

Foda-se o trabalho, foda-se a ocupação. Foda-se o pseudo-sucesso pasteurizado que é empurrado por nossas goelas abaixo. Sucesso é não ter que se preocupar. Sucesso é não viver ansioso. Sucesso é entender por que o trabalho é tão valorizado e dizer: foda-se, não quero isso. Eu quero é sombra, agua fresca e uma boa conexão de internet.

Bem, em suma é isso. Tem muito mais coisas que eu poderia escrever, mas tô com preguiça.

1 de fevereiro de 2010

Sartre, Lincoln e o BBB 10

Vou te falar uma coisa. Big Brother Brasil é muito bom. Babacas Brigando e fazendo Barraco por qualquer Bobagem. O BBB é a comprovação in vitro da afirmação de Sartre: O inferno são os outros.

Eu sempre desprezei esse programa por achar que se tratava de um despropósito absoluto, uma manifestação perfeita da falta de conteúdo do entretenimento televisivo. Eu estava enganado. Por increça que parível o BBB tem conteúdo. O conteúdo do programa é a falta de conteúdo das pessoas.

Por conteúdo, podemos entender os valores morais e éticos, os conceitos e preconceitos e principalmente a educação e boas maneiras das pessoas. Alí fica tudo exposto, como numa jaula sob a obseravação constante de dezenas de câmeras e milhões de espectadores. Não dá pra fingir. Não o tempo todo. Alí cedo ou tarde todos os participantes se mostram como são, em suas qualidades e virtudes.

Como disse Abraão (lincoln, não o bíblia) “Alguém pode enganar poucos por muito tempo, muitos por pouco tempo, mas não todos por todo o tempo".

E sob esses aspectos sociais, antropológicos e até psicológicos, o programa é um prato cheio para quem gosta de observar o comportamento humano. É uma oportunidade singular de estudar (e julgar também, claro. Nada mais gostoso que vibrar com a indicação de Tessália para o paredão) o desenvolvimento dos relacionamentos. É a novela da vida real.

Essa aí de cima vai rodar rapidinho. Mala demais (mais chata que eu, até).

23 de janeiro de 2010

A invenção da Mentira (2009)

Esse é O filme de 2009. E se bobear, da década. Em um ano que não será lembrado pela qualidade dos seus filmes, felizmente surgiu um para salvar a safra de ser um fracasso total.

Quando eu vi o título do filme pela primeira vez (The invention of lying – até que enfim uma tradução literal) fiquei bastante curioso pois achei muito interessante, e fui logo pesquisar no Imbd qual era a sua pontuação. O rating que o filme recebe lá sempre foi um bom indicador para mim, e todos que receberam de sete pontos em diante são considerados bons filmes por mim. Porém esse estava avaliado com a nota 6,6.

O filme me supreendeu logo na cena inicial, com uma locução em off (a voz de um narrador falando com o espectador) explicando que o filme se passa numa realidade onde a mentira não existe. No filme, as pessoas sempre falam o teor verdadeiro do que estão pensando. Simplesmente genial. Genialmente simples.

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Com base nessa idéia, os diálogos que se desenvolvem durante o filme são de uma graça cruel. Nós vemos claramente como a mentira  -  em seus diversos níveis – está presente em praticamente todas as interações entre os indivíduos e funciona como uma espécie de argamassa e até lubrificante social.

Diálogos

Tente imaginar uma conversa com duas pessoas falando exatamente o que pensam, sem rodeio e sem mentira. Um desastre? Certamente, pelos nossos padrões.

- E aí, vamos sair para almoçar juntos?
- Não, obrigado. Você é chato demais, e quando come faz um barulho nojento com a boca que me deixa com vontade de vomitar.
- Ah, sim. Tudo bem então.

O filme inteiro é feito de diálogos parecidos com esse acima. O interessante é que as pessoas estão tão acostumadas em ouvir a verdade que não se ofendem, e aceitam naturalmente.

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Lecture Filmes

A mentira está diretamente associada à criatividade, à capacidade de abstrair um pensamento e inventar uma situação imaginária. Embora o filme diga que as pessoas não desenvolveram a habilidade de mentir, vemos em algumas situações que o que realmente ocorre é que as pessoas não tem a capacidade de inventar, de abstrair. A incapacidade de mentir é apenas uma consequencia dessa limitação. O que serve apenas para deixar a história mais consistente.

Um exemplo disso, são os quadros pendurados nas paredes em diversos locais durante o filme. Todos eles retratam simples objetos comuns: Uma bola de futebol, um alvo de dardos. A principio não entendi qual seria o motivo desses quadros, mas depois depensar um pouco cheguei à essa conclusão sobre a falta de imaginação. Os quadros são simples representações de objetos porque as pessoas no filme são incapazes de imaginar um cena e transformá-la em pintura.

Outra evidência disso é a empresa em que o Mark, o protagonista, trabalha, a Lecture Films. Essa empresa é uma produtora de filmes, porém os filmes que ela faz não tem absolutamente nada a ver com os filmes de verdade. A começar pelos roteiros: Todos os roteiros são simples descrições de fatos históricos, exatamente da forma que ocorreram. Óbvio, uma vez que ninguém é capaz de inventar uma história. E os filmes não tem cenas ou nenhum tipo de representação - consistem em uma pessoa sentada numa cadeira lendo o roteiro.

Em um primeiro momento essas situações confundem um pouco o espectador, que não entende direito o motivo, justamente por não associar a mentira com a imaginação ou criatividade. Porém, quando nos damos conta disso, a sensação que estamos diante de um filme fantástico com uma história simples porém genial.

A invenção da mentira

O pivô do filme ocorre justamente quando Mark consegue contar a primeira mentira da humanidade ou,como ele mesmo descreve, falar algo que não é.

A partir desse momento ele se torna o homem mais poderoso do mundo pois, sendo o único que consegue mentir, pode inventar qualquer coisa que todos acreditam nele, uma vez que tudo o que todos falam é tipo como uma invariável expressão da realidade.

E como era de se esperar, em determinado momento ele inventa a maior mentira de todas, que muda o destino da humanidade radicalmente. Mentira essa que não vou contar aqui para não estragar o prazer de assistir o filme.

No frigir dos ovos

A invenção da mentira é um dos melhores fimes que já assisti, por conta do seu argumento e da forma competente como é desenvolvido. É claro que tem algumas falhas, principalmente porque refazer o mundo sem a existência da criatividade não é uma tarefa fácil.

Paralelamente à trama principal (principal para mim, pelo menos) ocorre o romance entre Mark e Anna (ninguém menos que Jennifer Garner), que no começo do filme parece fadado ao fracasso, já que Anna despreza o genotipo de Mark – Baixinho e com nariz de tobogã. Mas quando Mark desenvolve a capacidade de inventar/mentir a situação se inverte.

Porém, movido por um senso de correção, Mark não consegue usar seu poder para fazer Anna ficar com ele. E é nesse ponto que o filmecomete seu maior deslize,na minha opinião. Apesar de Mark tomar vantagem em todos os aspectos sociais por conta do seu poder, ele abre mão de usá-lo justamente naquilo que mais deseja. Esse moralismo certamente esfria um pouco o filme, e o deixa com cara de comédia romântica, mas felizmente não compromete a história a ponto de estragá-la.