26 de outubro de 2009

A Caverna na Matrix

Cypher está em um restaurante, acompanhado do agente Smith. Ele negocia os termos de sua traição enquanto saboreia um suculento filé. Ele sabe que aquele filé não existe. Nada ali existe, todo o cenário é uma simulação da Matrix.
  • - Mundo real. Ah, que piada! Você sabe o que é real? Vou dizer o que é.
Então ele corta um belo pedaço de bife, espeta com o garfo e fica segurando à sua frente, admirando sua textura, cheiro, cor, como é tenro e macio.
  • - Real é apenas uma palavra de quatro letras.
Ele ri e põe o bife na boca, e mastiga com vontade. It's so fucking good.
  • - Eu sei que esse bife não existe, eu sei que quando ponho ele na boca e mastigo, a Matrix está dizendo ao meu cérebro que ele é suculento e delicioso. Após todos esses anos, sabe o que eu percebi? Ignorância é felicidade.

E assim, por meio de um bife, essa cena do filme Matrix lida com uma das maiores questões da filosofia: A relação entre a realidade e os sentidos. Será que aquele bife digital é menos real que um bife de verdade? O que é a realidade, senão uma ideia que criamos em nossas mentes, a partir da infinidade de sinais que recebemos dos cinco sentidos? Será que os sentidos capturam fielmente o mundo exterior?

Certamente não. Podemos afirmar que os sentidos capturam apenas uma parte do que existe e, mesmo assim, de forma limitada. Por exemplo, de todo o espectro luminoso, a visão captura apenas uma parte infinitesimal. Jamais saberemos que cores existem antes do vermelho ou depois do violeta. O arco-íris que se forma no céu tem, de fato, muito mais que as sete cores que enxergamos. O mesmo se aplica aos outros sentidos. Cada um deles é capaz de perceber apenas uma parte insignificante de tudo o que existe.

Realidade x Existência

Indo além, podemos deduzir que tudo o que existe possui outras propriedades além das que podemos perceber, mas que jamais tomaremos ciência de quais possam ser, simplesmente por nos faltarem os sentidos para percebê-las.

A realidade, então, é algo muito limitado. É algo muito menor e mais restrito do que aquilo que existe. Imagine a caverna de Platão. Enquanto estamos na caverna, aquela é a realidade. Não há volume e nem cores. Quando saímos da caverna a realidade se torna mais rica, porém o que existia permaneceu inalterado. O que mudou foi apenas a nossa percepção. Então, na verdade, podemos dizer que nunca saímos da caverna, pois nunca chegamos ao conhecimento pleno de tudo o que existe. São infinitas cavernas, uma dentro da outra.


Roteiro de Matrix:

Livro:

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