Jackie Brown é uma aeromoça negra de quarenta e quatro anos. Já na fase descendente da vida, ela carrega no olhar um peso de quem quem sempre batalhou muito mas, devido às ironias da vida e algumas escolhas erradas, não conquistou nada. Ela olha quase sempre para o vazio, e é lá que ela se encontra.
Depois passar uma vida inteira sendo usada ela resolve cobrar a conta. E assim que surge a oportunidade ela põe em ação o seu plano que, se der certo, garantirá a sua aposentadoria. Nada mais justo, já que seu direito à uma velhice tranquila foi arrancada por aqueles que sempre abusaram dela. É assim que ela vê os homens, como aproveitadores que vêem nela apenas uma ferramenta para atingirem seus objetivos. Ela também carrega isso no olhar.
- Quem é o negão na foto, que você está com o braço em volta?
- Aquele é Winston, ele trabalha aqui comigo.
- E vocês são amigos?
- Sim.
- Aposto que foi sua idéia tirar essa foto, não foi?
Quando surge Max Cherry, o agente de fianças, ela sabe que finalmente encontrou alguém em quem pode confiar. Mesmo depois de haver emitido mais de quinze mil fianças em toda sua vida e conviver diariamente com criminosos, tendo que caçá-los às vezes, Max não está endurecido ou insensível. Seu olhar é o oposto de Jackie. É um olhar sereno de quem passou por muitas situações e soube lidar com elas, e tirar proveito delas.
So far, so good
Até agora, Tarantino não tem decepcionado. Cada filme seu vale a pena ser visto, e ainda não teve nenhum que eu não gostasse. É certo que ele mantém sempre os mesmos elementos em seus filmes. Mas e daí? São bons elementos, e ainda não cansaram.
Apesar de ser um roteiro adaptado, a história oferece várias chances para Quentin Tarantino explorar sua forma de fazer cinema. Os diálogos viajantes, a morte que ninguém espera, a trilha sonora carregada de nostalgia. Sem contar é claro, com o enredo que prende totalmente a nossa atenção. Não se sabe o que vai acontecer, não dá nem pra arriscar. Isso é Tarantino.
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