A sétima arte de vez em quando nos presenteia com filmes que duram bem mais que os noventa minutos de exibição na tela. São filmes que, de tão bons, nos acompanham por dias, meses, alguns até pela vida inteira. Esses filmes tem algo além de ação e uma boa direção.
São filmes com conteúdo. São histórias que provocam um saculejo nos neurônios e deixam uma pulga atrás da orelha. Para mim, os melhores filmes têm sempre uma mensagem, um ponto de vista novo a oferecer. Por isso os filmes que trazem à tona as grandes questões filosóficas são tão especiais, principalmente quando oferecem uma nova roupagem, mais atual e compativel com a nossa realidade.
Estou lendo o livro Cinefilô, de Ollivier Pourriol, cuja proposta é justamente despertar o pensamento filosófico que existem nos bons filmes.
A partir de filmes como Beleza Americana, Forrest Gump, X-men, Highlander, Clube da Luta, Blade Runner e, obviamente, Matrix, ele comenta as cenas mais significativas e, de forma fluída e leve, dá ótimas aulas de filosofia. Certamente depois de ler esse livro não vou ver filmes com os mesmos olhos.
Ele pega emprestado, por exemplo, a cena do glutão asqueiroso no restaurante francês do filme O Sentido da Vida, do Monty Python para ensinar o conflito que existe entre querer e poder. Enquanto a vontade é ilimitada, a potência é limitada. Queremos tudo, mas não podemos tudo. De fato, podemos muito pouco diante do que queremos, não é mesmo? Assim se apresenta a figura da escolha. Diante de tantas vontades e tão pouca capacidade, somos obrigados a escolher e, dessa forma, renunciar. Cada escolha implica uma renúncia, e talvez por isso seja tão dificil escolher, pois quem gosta de abrir mão das suas vontades?
O glutão é incapaz de renunciar. Tudo que lhe foi oferecido, aceitou, e ainda pediu um ovo por cima. O resultado não podia ser diferente, e ele explode. Afinal, o corpo é pequeno demais para caber todas as nossas vontades.
E assim o livro segue, cena após cena, lição após lição.
Estou lendo esse livro de noite em voz alta, acompanhado do meu filho de cinco anos. É claro que ele não entende nada. Mas é uma delicia ver como ele fica quietinho, escutando e prestando atenção.
- Ele explodiu, né pai?
- É, filho. Ele queria comer tudo que tinha no restaurante, mas não coube na barriga dele.
- Se eu comer tudo eu “expludo” também?
- Não, mas passa muito mal e tem que ir para o hospital.
- Hum.. Não vou comer tudo não.
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