23 de janeiro de 2010

A invenção da Mentira (2009)

Esse é O filme de 2009. E se bobear, da década. Em um ano que não será lembrado pela qualidade dos seus filmes, felizmente surgiu um para salvar a safra de ser um fracasso total.

Quando eu vi o título do filme pela primeira vez (The invention of lying – até que enfim uma tradução literal) fiquei bastante curioso pois achei muito interessante, e fui logo pesquisar no Imbd qual era a sua pontuação. O rating que o filme recebe lá sempre foi um bom indicador para mim, e todos que receberam de sete pontos em diante são considerados bons filmes por mim. Porém esse estava avaliado com a nota 6,6.

O filme me supreendeu logo na cena inicial, com uma locução em off (a voz de um narrador falando com o espectador) explicando que o filme se passa numa realidade onde a mentira não existe. No filme, as pessoas sempre falam o teor verdadeiro do que estão pensando. Simplesmente genial. Genialmente simples.

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Com base nessa idéia, os diálogos que se desenvolvem durante o filme são de uma graça cruel. Nós vemos claramente como a mentira  -  em seus diversos níveis – está presente em praticamente todas as interações entre os indivíduos e funciona como uma espécie de argamassa e até lubrificante social.

Diálogos

Tente imaginar uma conversa com duas pessoas falando exatamente o que pensam, sem rodeio e sem mentira. Um desastre? Certamente, pelos nossos padrões.

- E aí, vamos sair para almoçar juntos?
- Não, obrigado. Você é chato demais, e quando come faz um barulho nojento com a boca que me deixa com vontade de vomitar.
- Ah, sim. Tudo bem então.

O filme inteiro é feito de diálogos parecidos com esse acima. O interessante é que as pessoas estão tão acostumadas em ouvir a verdade que não se ofendem, e aceitam naturalmente.

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Lecture Filmes

A mentira está diretamente associada à criatividade, à capacidade de abstrair um pensamento e inventar uma situação imaginária. Embora o filme diga que as pessoas não desenvolveram a habilidade de mentir, vemos em algumas situações que o que realmente ocorre é que as pessoas não tem a capacidade de inventar, de abstrair. A incapacidade de mentir é apenas uma consequencia dessa limitação. O que serve apenas para deixar a história mais consistente.

Um exemplo disso, são os quadros pendurados nas paredes em diversos locais durante o filme. Todos eles retratam simples objetos comuns: Uma bola de futebol, um alvo de dardos. A principio não entendi qual seria o motivo desses quadros, mas depois depensar um pouco cheguei à essa conclusão sobre a falta de imaginação. Os quadros são simples representações de objetos porque as pessoas no filme são incapazes de imaginar um cena e transformá-la em pintura.

Outra evidência disso é a empresa em que o Mark, o protagonista, trabalha, a Lecture Films. Essa empresa é uma produtora de filmes, porém os filmes que ela faz não tem absolutamente nada a ver com os filmes de verdade. A começar pelos roteiros: Todos os roteiros são simples descrições de fatos históricos, exatamente da forma que ocorreram. Óbvio, uma vez que ninguém é capaz de inventar uma história. E os filmes não tem cenas ou nenhum tipo de representação - consistem em uma pessoa sentada numa cadeira lendo o roteiro.

Em um primeiro momento essas situações confundem um pouco o espectador, que não entende direito o motivo, justamente por não associar a mentira com a imaginação ou criatividade. Porém, quando nos damos conta disso, a sensação que estamos diante de um filme fantástico com uma história simples porém genial.

A invenção da mentira

O pivô do filme ocorre justamente quando Mark consegue contar a primeira mentira da humanidade ou,como ele mesmo descreve, falar algo que não é.

A partir desse momento ele se torna o homem mais poderoso do mundo pois, sendo o único que consegue mentir, pode inventar qualquer coisa que todos acreditam nele, uma vez que tudo o que todos falam é tipo como uma invariável expressão da realidade.

E como era de se esperar, em determinado momento ele inventa a maior mentira de todas, que muda o destino da humanidade radicalmente. Mentira essa que não vou contar aqui para não estragar o prazer de assistir o filme.

No frigir dos ovos

A invenção da mentira é um dos melhores fimes que já assisti, por conta do seu argumento e da forma competente como é desenvolvido. É claro que tem algumas falhas, principalmente porque refazer o mundo sem a existência da criatividade não é uma tarefa fácil.

Paralelamente à trama principal (principal para mim, pelo menos) ocorre o romance entre Mark e Anna (ninguém menos que Jennifer Garner), que no começo do filme parece fadado ao fracasso, já que Anna despreza o genotipo de Mark – Baixinho e com nariz de tobogã. Mas quando Mark desenvolve a capacidade de inventar/mentir a situação se inverte.

Porém, movido por um senso de correção, Mark não consegue usar seu poder para fazer Anna ficar com ele. E é nesse ponto que o filmecomete seu maior deslize,na minha opinião. Apesar de Mark tomar vantagem em todos os aspectos sociais por conta do seu poder, ele abre mão de usá-lo justamente naquilo que mais deseja. Esse moralismo certamente esfria um pouco o filme, e o deixa com cara de comédia romântica, mas felizmente não compromete a história a ponto de estragá-la.

Um comentário:

  1. Bhaltazar lobo solitario6 de junho de 2014 às 06:39

    E vc nunca pensou na hipótese de ser vdd? Talvez vcs religiosos sejam imbecis e ingênuos msm. Pois aqueles que buscam o conhecimento não se conformam com o que vos dizem...

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