31 de outubro de 2009

Efeito Manada

Manada
S.f.: 1. Rebanho de gado 2. grupo numeroso de pessoas passivas, que se deixam conduzir sem questionamento.

Todo mundo já assistiu aqueles programas do Animal Planet, que mostra uma manada de antílopes descansando, ou bebendo água na beira do rio, quando de repente um deles começa a correr e então todos os outros saem correndo juntos na mesma direção. Esse é o comportamento de manada, que tem sua razão de ser no mundo animal. Pois se um antílope saiu correndo, é porque avistou algum perigo, provavelmente um leopardo faminto se aproximando doido pra almoçar carne crua.

Essa brincadeira de pique-pega entre o leopardo e os antílopes é muito rápida. Se um antílope vacilar por meio segundo, já era, vira almoço. Então, quando vê que já tem um desesperado correndo feito louco, o melhor que ele tem a fazer é correr também, pois se levantar a cabeça para olhar ao redor, como quem diz “peraí, deixa eu ver por que esse cara tá correndo.” já é tarde demais para fugir.

É pra lá, corre!

O mesmo acontece com os quadrúpedes de duas pernas chamados humanos. Imagina que você está na praia, em um estádio de futebol ou no shopping passeando, e do nada surge uma galera – tem que ser muita gente, e não meia dúzia. Na verdade, tem que ser todo mundo  – correndo desesperada, gritando e pisoteando os que tropeçam. O que você faz?

  • A) Fica parado, pescoçando, tentando ver do que todo mundo foge.
  • B) Levanta as mãos e pede calma, pois desespero não resolve nada.
  • C) Aproveita a confusão e passa a mão na bunda daquela gostosa que você estava de olho.
  • D) Sai correndo também, e deixa pra perguntar depois.

Nessa situação, o efeito manada é o mesmo do mundo animal. Nosso instinto age e somos tomados pelo impulso. Não há tempo para deliberar. Contudo, conosco, ditos racionais, o efeito manada se manifesta de uma outra forma ainda mais irracional. Nós temos a tendência de imitar o que está todo mundo fazendo somente porque…  Está todo mundo fazendo!

Foi isso que aconteceu com os caras-pintadas em 92. noventa e nove por cento participou por que era o lance do momento, o um por cento restante participou porque foi manipulado pela oposição ao governo. Foi isso também que aconteceu com a aluna da Uniban que abandou o prédio sob o coro de “puta, puta, puta”. Absolutamente nenhum dos debilóides que aparecem no vídeo gritando e quicando feito macacas no cio sabia o que de fato ocorreu. “O negócio é fazer que nem todo mundo”.

Isso mostra o estado alterado em que ficamos quando estamos em grupo. A tendência quase irresistível de seguir a manada. Está todo mundo correndo, também vou correr. Está todo mundo batendo palmas, também vou aplaudir. Está todo mundo gritando, também vou gritar. Está todo mundo passando merda no cabelo, vou fazer um penteado estilo shit moicano.

E sabendo desse comportamento, pessoas espertas e manipuladoras como políticos e pastores evangélicos usam o efeito manada em seu favor, para conferir autenticidade e autoridade a seus atos mentirosos e desprezíveis. Em um comício é aquela gritaria, aquele oba-oba, pessoas defendendo fervorosamente aquilo que não entendem. Nas igrejas é a mesma coisa, o pastor Ryu solta um shoryuken haddouken e os idiotas todos caem pra trás, aleluia! Esse tipo de manipulação em massa inibe o surgimento do pensamento crítico, pois qualquer questionamento é tido como ameaça ao que todos têm como certo e comprovado.

E assim a vida vai seguindo, com os espertos tangendo seus rebanhos.

30 de outubro de 2009

Confissão de um indiferente arrependido

Qual a diferença entre ignorância e apatia?
Não sei e não quero saber.

Como expressar o sentimento, quando tudo o que se sente é um vazio? Quando se olha o mundo e tudo que vem à mente é um silêncio, que só não é absoluto devido ao assobio constante e quase inaudível, cuja única função é tornar tudo ainda mais cinzento? Como um anti-mantra que insiste em ecoar na nossa cabeça, para que nem mesmo paz possamos ter.


À medida que os dias passam e tudo se repete da mesma forma, é como se a cada repetição tudo perdesse um pouco de cor, um pouco de vida. 

Dia após dia os acontecimentos vão perdendo a importância. Depois de algum tempo, o que mais pensamos é "tanto faz" . Já passamos por tudo tantas vezes, já repetimos tanto a mesma cena, que não fazemos mais questão.

Com os olhos, percorro o cenário desgastado à procura de algo novo, alguma cor no meio de tanto cinza, mas é sempre em vão. Já faz tanto tempo desde a última vez que vi uma cor, que se visse hoje algo colorido, acho que não reconheceria. Talvez seja melhor fazer que nem aquelas pessoas que mentem para si mesmas, ou induzem a si mesmas, e repetem constantemente que tudo é colorido e cheio de vida. Essa repetição talvez abafe o assobio e, com o tempo, se tiver sorte, até acredite que realmente tudo tem cor e vida.

Há um tempo certo para tudo na vida, tudo a seu tempo. Mas eu quero tudo ao mesmo tempo, quero tudo agora. Não quero esperar. Quero tudo a um clique de distância. Não importa se é a espera que dá valor às conquistas, não importa se a conquista sem esforço e sem espera não tem valor. Eu quero tudo assim, pasteurizado. Tudo igual, tudo cinza. Eu quero que tudo acabe.

Se tudo acabar, existe a chance de tudo renascer de um jeito diferente. O que está aí não serve mais.

Uma vez eu li que não vemos o mundo como ele é, mas como somos. Será que sou cinzento e sem vida? Se for assim, eu que tenho que morrer e renascer diferente. Será essa a diferença entre mim e o suicida? Eu quero renascer, o suicida quer apenas morrer. A única questão agora é saber como renascer.

Renascer é recomeçar. recomeçar é esquecer tudo o que vivemos e sabemos, e aprender novamente. Mas se esquecer tudo, como evitar de percorrer o mesmo caminho que me trouxe aqui, nessa versão cinzenta do mundo? É somente isso que eu preciso lembrar, de me afastar do cinza. Sempre que algo começar a parecer cinzento, tenho que mudar a direção. É isso. Vou ressurgir do cinza e das cinzas.

28 de outubro de 2009

Eu quero é Poder

Conhece aquela história da fábrica de sapatos que queria expandir sua atuação para outros países, e mandou dois representantes para a Índia, afim de avaliarem se lá seria um bom mercado? Os dois foram e, logo na primeira semana, enviaram seus relatórios. O primeiro concluiu que não seria possível a empresa se estabelecer naquele país pois, pelo que havia observado, ninguém lá usava sapatos. O relatório do segundo dizia que quanto antes abrissem uma fábrica lá, melhor seria, pois ninguém lá usava sapatos.


Deixando de lado a moral marketeira-motivacional-corporativa do exemplo, ele serve bem para expressar uma prática comum  que as instituições mais básicas na sociedade utilizam para se manterem vivas e dominantes. As instituições a que me refiro são o Estado, a Indústria e a Igreja. Essas três instituições são responsáveis pela organização, produção e moral sociais. Para existirem e se manterem e, além disso, para permanecerem dominantes, elas precisam que todos creiam que elas realmente são indispensáveis. Mas como?

Criando dificuldades

A vida é simples. Ou deveria ser, pelo menos. Nós é que somos complicados e complicamos tudo o que tocamos. Criamos um sistema social complexo ao longo dos milênios, partindo da época das cavernas até hoje, sempre acrescentamos um pouquinho de complicação em cada etapa. O resultado é esse emaranhado social totalmente confuso, muitas vezes contraditório e cada vez mais afastado das nossas necessidades básicas.

Mas como um sistema confuso, contraditório e insatisfatório consegue se manter e se fortalecer cada vez mais? Eu respondo: Fazendo as pessoas acreditarem que ele é necessário. Afinal, se algo é ruim mas precisamos dele, paciência. Fazer o quê? É um mal necessário. Dessa forma,
Cria-se a dificuldade para vender facilidade. Essa é a receita mágica utilizada pelo Estado, Indústria e Igreja não apenas para existirem, mas para dominarem a sociedade. E o que ganham com isso? Poder, meu amigo, poder.

O Estado

Sinceramente, se fosse para o Estado funcionar, ele funcionaria. Aliás, ele funciona. Apenas não funciona como imaginamos que deveria funcionar. Nós aprendemos que o Estado existe para nós. Mas para o Estado, nós existimos para ele. Sua função não é nos servir, mas existir para si próprio, se manter e se fortalecer. E quem ganha com isso? Eles, meu amigo, eles. Eles quem? Eles, você sabe. Os marcianos? Não porra, os dominantes, a classe dominante. O mundo é uma grande conspiração. Existem os dominantes e os dominados. Tudo o que é feito no mundo, é feito para manter os dominantes no domínio. Como eu disse, poder.

O estado é uma profilaxia. Criado supostamente para manter sob controle as mazelas humanas. Violência, doenças, fome, essas coisas. O Estado deveria ser uma forma colaborativa de combater tudo aquilo que aflige a sociedade. Portanto, o Estado somente existe enquanto existirem essas aflições. Sendo assim, qual o interesse do Estado em erradicar o mal, se isso implicaria sua extinção?

É claro que, mesmo que quisesse, não seria possível erradicar os males que afligem a sociedade. Violência, fome e doenças sempre vão existir. O Estado sempre será necessário. Contudo, não basta ao estado ser necessário, Ele quer dominar e se impor para, dessa forma, seus controladores dominarem e imporem suas vontades sobre a sociedade.

Então, é interesse do Estado manter os males sociais sempre em patamares elevados, quase insuportáveis, pois quanto maiores os males, maior a importância do Estado. Em última análise, a civilidade afasta o Estado. Quanto mais educados, tolerantes e conscientes forem as pessoas, menos elas precisam de um Estado para as proteger. Veja o caso da violência, por exemplo. Imagine um grupo de crianças brincando de polícia e ladrão. Umas fazem o papel de ladrão e outras de policia. Os ladrõezinhos saem correndo e se escondem. Os policiaizinhos correm à sua procura. O que acontece quando os policiais pegam todos os ladrões? A brincadeira acaba

Exatamente o mesmo acontece com a violência e o crime de verdade. Pense na quantidade de pessoas e dinheiro que envolve toda a atividade policial do Estado. Pense em como essa engrenagem é importante para a máquina, na geração de poder. Pensou? Então imagine se a criminalidade e a violência despencarem em noventa e cinco por cento, por exemplo. O que aconteceria nesse caso? Se isso ocorresse, seria necessária a redução do quadro policial para adequação à nova realidade. Consequentemente, resultaria em menos poder para o Estado. E quem gosta de perder poder?

O mesmo se aplica a todas as outras situações. Crime e violência, doenças, educação, fome, etc. Se o Estado reduzisse esses problemas pela metade, seu poder seria reduzido na mesma proporção. Portanto, é interesse do Estado manter todos esses males bem vivos e, mais que isso, incentivar o surgimento de mais e mais problemas e dificuldades para, assim, poderem vender a sua facilidade.

Comparando com a anedota do inicio desse post, é como se o Estado espalhasse cacos de vidro pelas ruas, para que as pessoas se vissem forçadas a usarem sapatos. O Estado cria pobreza, violência, doenças e ignorância para vender saúde, educação, segurança, ordem e progresso.

No próximo post:
Como a Indústria e a igreja utilizam a mesma estratégia.

27 de outubro de 2009

Dinheiro!

Uma vez um cara muito doido disse que o amor ao dinheiro é a raiz de todo mal. Então, seus seguidores se espalharam pelo mundo pregando suas palavras. E hoje cobram por isso.

Dinheiro: Meio ou fim? Na teoria é sempre um meio, mas na prática é um fim. Será? Acho que não. Explico.

Hoje em dia o ócio é praticamente imoral. Nós realmente acreditamos que o nosso tempo precisa ser gasto integralmente com atividades produtivas, que na verdade é um eufemismo para trabalho. Aceitamos entregar setenta por cento de nosso tempo em troca de trocados (desculpe o trocadilho =p). Isso significa que vivemos para trabalhar, o que significa que vivemos para ganhar dinheiro. Mas pra quê? Pra comprar coisas. Que coisas? Qualquer coisa, principalmente coisas que você nunca vai precisar.

Uma das utilidades do dinheiro

Não estou aqui pra falar mal do capitalismo e muito menos do dinheiro, mesmo porque eu gosto muito dele. Mas quero sim falar mal do valor que o dinheiro ocupa em nossas vidas. O dinheiro, e o que ele representa, foi elevado ao status mais elevado em nossa sociedade. Medimos o valor de uma pessoa pelas roupas que usa, carro que possui, local onde mora e por aí vai. E sendo essa a referência de Valor, todos perseguimos esse ideal.

E o que leva as pessoas à compulsão de juntar dinheiro, sem haver um destino previamente planejado para esse dinheiro?
Por exemplo, imagine uma pessoa que trabalha seis horas por dia e com o que ganha, consegue se manter e ter uma vida que ela considera confortável. Então ela recebe uma proposta para trabalhar oito horas por dia e ganhar mais dinheiro. Certamente ficará tentada a aceitar. Mas porquê, se ela já tem tudo que necessita para se manter de forma satisfatória e essa proposta requer que ela sacrifique ainda mais o seu precioso tempo? A resposta é que, por mais que ela tenha tudo o que precisa, ela nunca tem tudo o que deseja.

Nunca ninguém está plenamente satisfeito. Queremos sempre mais. É da nossa natureza criar novas expectativas para substituir as que foram correspondidas. E no modelo capitalista essas expectativas se concentram quase que totalmente nos bens materiais. Mal desembalamos a televisão de quarenta polegadas que acabamos de comprar, e já queremos uma de cinquenta, depois sessenta e por aí vai. Por isso que uma pessoa aceita sacrificar seu tempo, desde que isso signifique a possibilidade de juntar mais dinheiro que, por sua vez, significa a possibilidade de saciar mais de seus muitos desejos consumistas.

Agora o pulo do gato.

Dinheiro pra nada e mulheres de graça Por que as pessoas juntam dinheiro, mas hesitam na hora de convertê-lo em satisfação? Porque gostam de manter quantias consideráveis no banco enquanto sonham com o mais novo lançamento? Se temos uma vontade, e temos dinheiro para satisfazer essa vontade, o que nos impede? Eu respondo: As outras vontades.

O consumismo está tão arraigado em nós, que somos incapazes de querer uma coisa de cada vez. Queremos a televisão de cinquenta polegadas, mas queremos também trocar de carro, viajar pra Miami e reformar o apartamento. Oh dúvida cruel! Tantos desejos e tão pouco dinheiro para satisfazê-los. Os nossos desejos evoluem exponencialmente em relação ao nosso dinheiro. Temos mil dinheiros, queremos bens que totalizam dois mil. Temos dois mil? Então o que queremos custa quatro mil, e por aí vai. Não importa quanto dinheiro nós temos, nunca será o suficiente. Nossa vontade é infinita, como a do glutão asqueroso do Sentido da Vida.

Dessa forma, tal qual formigas strippers zumbis, nós juntamos, juntamos e juntamos à espera do dia em que teremos dinheiro para comprar tudo o que queremos. Dia esse que nunca chegará. Além disso, o dinheiro no banco tem um significado muito especial. Significa possibilidades. Mesmo que o dinheiro que temos não compre tudo o que queremos, ele certamente é suficiente para comprar uma parte do que queremos. Enquanto ele estiver lá, quietinho no banco, nós nos confortamos em sonhar com as possíveis satisfações que ele pode trazer. Mas não podemos nunca gastá-lo, senão o sonho acabada, e aquilo que compramos ironicamente deixa de nos satisfazer assim que abrimos a embalagem.

26 de outubro de 2009

A Caverna na Matrix

Cypher está em um restaurante, acompanhado do agente Smith. Ele negocia os termos de sua traição enquanto saboreia um suculento filé. Ele sabe que aquele filé não existe. Nada ali existe, todo o cenário é uma simulação da Matrix.
  • - Mundo real. Ah, que piada! Você sabe o que é real? Vou dizer o que é.
Então ele corta um belo pedaço de bife, espeta com o garfo e fica segurando à sua frente, admirando sua textura, cheiro, cor, como é tenro e macio.
  • - Real é apenas uma palavra de quatro letras.
Ele ri e põe o bife na boca, e mastiga com vontade. It's so fucking good.
  • - Eu sei que esse bife não existe, eu sei que quando ponho ele na boca e mastigo, a Matrix está dizendo ao meu cérebro que ele é suculento e delicioso. Após todos esses anos, sabe o que eu percebi? Ignorância é felicidade.

E assim, por meio de um bife, essa cena do filme Matrix lida com uma das maiores questões da filosofia: A relação entre a realidade e os sentidos. Será que aquele bife digital é menos real que um bife de verdade? O que é a realidade, senão uma ideia que criamos em nossas mentes, a partir da infinidade de sinais que recebemos dos cinco sentidos? Será que os sentidos capturam fielmente o mundo exterior?

Certamente não. Podemos afirmar que os sentidos capturam apenas uma parte do que existe e, mesmo assim, de forma limitada. Por exemplo, de todo o espectro luminoso, a visão captura apenas uma parte infinitesimal. Jamais saberemos que cores existem antes do vermelho ou depois do violeta. O arco-íris que se forma no céu tem, de fato, muito mais que as sete cores que enxergamos. O mesmo se aplica aos outros sentidos. Cada um deles é capaz de perceber apenas uma parte insignificante de tudo o que existe.

Realidade x Existência

Indo além, podemos deduzir que tudo o que existe possui outras propriedades além das que podemos perceber, mas que jamais tomaremos ciência de quais possam ser, simplesmente por nos faltarem os sentidos para percebê-las.

A realidade, então, é algo muito limitado. É algo muito menor e mais restrito do que aquilo que existe. Imagine a caverna de Platão. Enquanto estamos na caverna, aquela é a realidade. Não há volume e nem cores. Quando saímos da caverna a realidade se torna mais rica, porém o que existia permaneceu inalterado. O que mudou foi apenas a nossa percepção. Então, na verdade, podemos dizer que nunca saímos da caverna, pois nunca chegamos ao conhecimento pleno de tudo o que existe. São infinitas cavernas, uma dentro da outra.


Roteiro de Matrix:

Livro:

25 de outubro de 2009

O espelho novo de Narciso

Eu tenho mil e duzentos amigos no Orkut, doze mil cento e vinte seguidores no Twitter e oitocentos assinantes do meu Blog. Tenho tantos fãs porque sou realmente especial, tenho uma visão única dos fatos e sempre vejo o que ninguém vê. Nada mais natural que pessoas inteligentes como eu (bem, não tanto quanto eu, mas inteligentes o suficiente para perceberem a minha inteligência) queiram estar conectadas comigo para ouvirem o que eu tenho a dizer. Estou no paraíso de Narciso.

Todos temos um Narcisinho dentro de nós. Quem não se acha, sinceramente, pelo menos um pouco especial e diferente. E de fato somos. O Narcisismo é uma peça importante para a formação da nossa auto-imagem. O problema é quando aquele menininho bonitinho e inofensivo que gosta de ser olhar vez por outra no espelho cresce e se torna um gigante paralítico que, tomado por uma paixão insana por si mesmo, é incapaz de sair da frente do espelho.

John William Waterhouse, Écho et Narcisse (1903) 

É aí que o paraíso vira inferno. O narcisista patológico vive pra se admirar. Ele despreza tudo aquilo que não seja ele mesmo. Só ele é bonito, só ele é inteligente, só ele é especial. As outras pessoas servem somente para admirá-lo. Os outros são apenas espelhos nos quais ele vê a própria imagem refletida. E, preso pelo espelho, é impedido de admirar o resto do mundo.

image Parênteses: Não há como deixar de moralizar o tema. Partimos do pressuposto de que quem não quer ou não pode admirar o mundo está em uma situação reprovável. Particularmente, penso diferente. Se o Narcisista é feliz olhando só a si mesmo o tempo todo, então ele continua no paraíso.

Parênteses do parênteses: A questão é que o narcisista precisa de outras pessoas para servirem de espelho. As pessoas servem de espelho quando corroboram com a imagem que ele faz de si mesmo, concordando em sua superioridade. E somente dessa forma que as pessoas são importantes para ele. A partir do momento que em que a outra pessoa deixa claro que não concorda com a auto-imagem do narcisista é como se fosse um espelho defeituoso incapaz de refletir a imagem que ele quer ver.

E nesse contexto surge a internet, que se apresenta como despertador e amplificador do narcisismo. A partir do momento em que ela nos fornece um relatório sempre atualizado de quantos espelhos possuímos, em forma de assinantes no Blog, seguidores no Twitter e por aí vai, o narcisista se sente impelido a buscar sempre mais admiradores, para poder se admirar ainda mais. Pouco importa saber quem são seus seguidores, e muito menos saber o que eles escrevem, o único valor deles é somarem um número no contador. O que foi concebido para ser uma forma de aumentar a colaboração e interação entre as pessoas é subvertido e transformado em um instrumento de admiração de si mesmo. É o novo espelho de Narciso.

Pra saber mais: 
http://virtualpsy.locaweb.com.br/dsm_janela.php?cod=162

24 de outubro de 2009

Cinefilô – Cinema e Filosofia

A sétima arte de vez em quando nos presenteia com filmes que duram bem mais que os noventa minutos de exibição na tela. São filmes que, de tão bons, nos acompanham por dias, meses, alguns até pela vida inteira. Esses filmes tem algo além de ação e uma boa direção.

São filmes com conteúdo. São histórias que provocam um saculejo nos neurônios e deixam uma pulga atrás da orelha. Para mim, os melhores filmes têm sempre uma mensagem, um ponto de vista novo a oferecer. Por isso os filmes que trazem à tona as grandes questões filosóficas são tão especiais, principalmente quando oferecem uma nova roupagem, mais atual e compativel com a nossa realidade.

CinefilôEstou lendo o livro Cinefilô, de Ollivier Pourriol, cuja proposta é justamente despertar o pensamento filosófico que existem nos bons filmes.

A partir de filmes como Beleza Americana, Forrest Gump, X-men, Highlander, Clube da Luta, Blade Runner e, obviamente, Matrix, ele comenta as cenas mais significativas e, de forma fluída e leve, dá ótimas aulas de filosofia. Certamente depois de ler esse livro não vou ver filmes com os mesmos olhos.

Ele pega emprestado, por exemplo, a cena do glutão asqueiroso no restaurante francês do filme O Sentido da Vida, do Monty Python para ensinar o conflito que existe entre querer e poder. Enquanto a vontade é ilimitada, a potência é limitada. Queremos tudo, mas não podemos tudo. De fato, podemos muito pouco diante do que queremos, não é mesmo? Assim se apresenta a figura da escolha. Diante de tantas vontades e tão pouca capacidade, somos obrigados a escolher e, dessa forma, renunciar. Cada escolha implica uma renúncia, e talvez por isso seja tão dificil escolher, pois quem gosta de abrir mão das suas vontades?

O glutão é incapaz de renunciar. Tudo que lhe foi oferecido, aceitou, e ainda pediu um ovo por cima. O resultado não podia ser diferente, e ele explode. Afinal, o corpo é pequeno demais para caber todas as nossas vontades.

Traz um Sundae agora.

E assim o livro segue, cena após cena, lição após lição.
Estou lendo esse livro de noite em voz alta, acompanhado do meu filho de cinco anos. É claro que ele não entende nada. Mas é uma delicia ver como ele fica quietinho, escutando e prestando atenção. 
     - Ele explodiu, né pai?
     - É, filho. Ele queria comer tudo que tinha no restaurante, mas não coube na barriga dele.
     - Se eu comer tudo eu “expludo” também?
     - Não, mas passa muito mal e tem que ir para o hospital.
     - Hum.. Não vou comer tudo não.

23 de outubro de 2009

Pra não dizer que não falei das flores

Apesar de gostar muito de música e me considerar eclético, apenas recentemente passei a curtir rock nacional. Durante a minha adolescência, que foi na transição entre os anos 80 e 90, tudo o que eu ouvia eram os discos que meu pai tinha em casa: Beatles, Pink Floyd, Kraftwerk, alguma coisa de Disco Music, como Bee gees e ELO, de nacional eu lembro de uma coletânea do Alceu Valença e um outro disco com Vinicius, Edu Lobo, etc. Passei praticamente alheio a bandas como Ira!, Paralamas, Nenhum de Nós, RPM e Ultraje a Rigor.

E agora estou descobrindo muita coisa boa, velhos baús com alguns tesouros. Estou curtindo pra caramba. Uma das minhas bandas preferidas são os Titãs. Os caras são realmentes bons e criaram verdadeiras obras-primas como Marvin, Polícia, Querem meu sangue, Homem Primata..

..E Flores. Uma das minhas preferidas. Não canso de assistir no youtube.

E se tem algo no youtube tão bom quanto sua infinidade de videos, são os comentários. Tem verdadeiras pérolas de sabedoria espalhadas por lá. Em relação à música encontrei um comentário que me chamou a atenção. Dizia que a música é sobre a lamentação de um homem morto, em seu funeral.

Eu imagino que o personagem da musica morreu em um acidente de carro.

Olhei até ficar cansado de ver meus olhos no espelho.
Chorei por ter despedaçado as flores que estão no canteiro.
Os punhos e os pulsos cortados, e o resto corpo inteiro.

Ele estava dirigindo e perdeu o controle do carro, avançou por cima de um canteiro de flores e logo depois se chocou violentamente contra um muro. E ficou lá, imóvel, de olhos abertos em frente ao retrovisor enquanto perdia a vida lentamente preso nas ferragens e com diversos cortes e ferimentos.

 

Há flores cobrindo o telhado
E embaixo do meu travesseiro
Há flores por todos os lados
Há flores em tudo que eu vejo

Agora o cenário é o seu funeral. Ele se vê flores por todos os lados. Mas não são as flores que ele despedaçou no acidente, são as flores dos buquês e coroas que enfeitam o seu caixão, espalhadas por todos os lados.

Talvez por isso as flores tenham cheiro de morte. Talvez fosse melhor se tivessem usado flores artificiais, de plástico.

FAQ:

Essa é a interpretação correta da música?
Não. Essa é uma das inúmeras interpretações possíveis.

Será que não foi suicídio? Veja os “pulsos cortados”.
É, pode ser, mas não nessa interpretação.

22 de outubro de 2009

A Revolução dos Bichos

Todos os hábitos do Homem são maus. Jamais um animal deverá tiranizar outros animais. Fortes ou fracos, espertos ou simplórios, somos todos irmãos. Todos os animais são iguais.

Quando eu li esse livro pela primeira vez, foi sem nenhuma referência e sem nenhum conceito prévio. Eu não esperava ler uma crítica ao poder e muito menos ao comunismo. Não sabia que os porcos eram Lênin e Stalin. Eu não sabia o que esperar e não possuía nenhuma expectativa. Eu o li à revelia de seu contexto histórico. As vezes referências demais atrapalham.imageE lido dessa forma, o livro me impressionou. E até hoje ele me impressiona e influencia. Esse livro tem um importância tremenda na minha forma de ver o mundo. Para mim não se trata de uma crítica ao comunismo ou ao poder. É maior que isso. É uma crítica à condição humana. É um tapa da cara. A Revolução dos Bichos mostra de forma precisa a capacidade que temos de subverter e o sentido de qualquer valor ou regra, e interpretá-los exclusivamente de acordo com nossos interesses. Mostra a sordidez das sutilezas, às quais todos recorremos para enganar o próximo, que para nós não é assim tão próximo. É um livro melancólico, porque faz a constatação mas não apresenta a solução. Mostra o problema e, sem nenhuma esperança, se prostra diante dele. George Orwell Sabia que não há solução para nossos defeitos, pois renunciar ao egoísmo e ao narcisismo é renunciar ao que nos torna humanos. Por isso mesmo é um livro que sempre será atual. Não importa o momento ou qual a forma de poder, sempre haverão os dominantes e os dominados, e sempre será uma puta sacanagem.image A Revolução dos Bichos me ensinou que a natureza humana é de tal forma que, quando nos deparamos com alguém em desvantagem, nosso impulso é tirar proveito da situação e usar a nossa superioridade para impor nossa vontade. Ser igual não basta, o legal é ser superior.

Todos os animais são iguais, mas alguns animais são mais iguais que outros.


O Rafael não gostou do livro, e oferece uma interpretaçao bem diferente e interessante:
http://www.rafael.galvao.org/2004/12/a-revolucao-dos-bichos/

Pra quem tem preguiça de ler um livro, segue a resenha:
http://recantodasletras.uol.com.br/visualizar.php?idt=2369

Karateka

Quando eu tinha lá pelos meus 11 anos, meu pai comprou um videocassete betamax. E ninguém mais tinha aquela porra, só a gente. O mundo inteiro usava VHS, menos nós e o presidente da Sony. Por causa disso, a única locadora que encontramos ficava no largo do machado, e na época morávamos em botafogo. Mão na roda.

Na galeria comercial onde ficava a locadora havia também uma loja de computadores, bem atualizada, diga-se de passagem. Foi lá que vi pela primeira vez um Plotter e um Disquete de oito, eu disse oito, polegadas. E foi nessa loja que eu vi pela primeira vez, num monitor fósforo verde, o jogo Karateka.

Fósforo verde é velho pra dedéu

Que cena! O impacto foi tão grande que até hoje eu lembro desse dia, e de como fiquei maravilhado com o que os computadores eram capazes de fazer. Até então, minha referência de jogos eletrônicos era o Atari 2600.

O jogo era mesmo muito bom. Logo no inicio o personagem surgia escalando um desfiladeiro para chegar até a fortaleza onde sua amada estava encarcerada. E isso criava uma atmosfera em torno do jogo. O Karateka tinha história. Ele não nasceu alí de frente para aquele chifrudo, ele teve que vir de algum lugar e escalar até chegar ao seu oponente. Isso foi inovador, eu nunca poderia pensar que um um jogo também poderia ser uma história e, mais que isso, um história vivida por mim e cujo final dependia de mim.

Capa original Até então, tudo o que eu conhecia de videogames eram os jogos de loop infinito como Pac-man, Enduro, River raid, Pitfall (eu tinha um amigo que jurava que tinha terminado o pitfall do atari). Eram jogos que não tinham nenhuma história, possuiam apenas um cenário que se repetia monótona e indefinidamente. E não era só nisso que o jogo impressionava. Os gráficos eram de uma beleza única também. O movimento dos lutadores, os golpes. Tudo era perfeito.

Na época, o mercado de jogos de computador era bastante restrito, mas o jogo atingiu enorme sucesso e foi lançado em diversas plataformas além do original apple II, atari, IBM, commodore 64 e Nintendo. Ao todo, o jogo vendeu mais de quinhentas mil cópias. Um número espetacular para 25 anos atrás. Baseado em Karateka, cinco anos depois foi lançado Prince of Persia, que talvez seja o jogo mais antigo ainda em continuidade, depois de Mario Bros.

Curiosidade

Na década de 80 ninguém tinha o hábito de baixar jogos pela internet. Eles eram vendidos em cassete (eu disse caSSéte, com dois esses e acento no “e”) ou disquetes. A versão para Apple II era vendida em um disquete aparentemente single-sided, mas no outro lado vinha um easter egg, uma versão do jogo que rodava de cabeça para baixo. Então, quando alguém inseria o disquete invertido aparecia o jogo de ponta cabeça, e se ligava para reclamar do defeito  recebia como resposta “Retire o disquete, insira com o lado correto para cima, e reinicie o jogo”. Genial.

Aí vai o site do Jordan Mechner, criador do jogo. Vale a pena conferir.

21 de outubro de 2009

Perfeição e prática

“A prática conduz à perfeição”

O pensador (Auguste Rodin) O ditado acima é muito famoso e tido, como a maioria dos ditados, por verdadeiro. De fato, tenho experimentado mais ou menos isso aqui no Quarta Pessoa. Eu sempre quis escrever algo, um livro, um conto, uma poesia, uma letra de música, uma piada. Qualquer coisa que servisse de veículo para minha forma de ver o mundo. Porém eu sempre esbarrava na dificuldade de expressar com exatidão o que eu sentia.

Eu simplesmente não conseguia traduzir no papel o que eu queria dizer. Era frustrante. Por causa disso, até o mês passado, eu nunca fiz e levei a sério um blog, pois sempre no primeiro post eu me embaralhava e o resultado não era o que eu esperava. Contudo, aqui no Quarta Pessoa eu resolvi insistir. E reparei que tenho melhorado.

Eu estou me educando a escrever, pelo menos, um texto de aproximadamente quatrocentas palavras por dia. E, de fato, a cada novo texto as palavras saem com mais fluência e naturalidade. Escrever está se tornando cada vez mais fácil e prazeroso, e os resultados estão me agradando cada vez mais. Realmente parece que o ditado tem sua parcela de verdade. A prática conduz à perfeição.

Fugit Amor (Auguste Rodin)

Será?
Perfeição é uma palavra muito forte, de sentido absoluto. Acho que é um pouco de exagero usar essa palavra, visto que, por definição, a perfeição é algo “meio impossível” de alcançar. Então resolvi reescrever o ditado: “A prática conduz à quase perfeição”. Hum, ainda não está legal, a perfeição ainda está lá, mesmo que quase. “A prática conduz ao melhor do nosso potencial”. Assim está melhor, sem a perfeição que é intangível.

Belle Heaulmiere (Rodin de novo) Pensando bem, ainda não está muito certo, isso. A palavra “prática” é muito vaga. O que é prática? Uma pessoa que joga bola duas vezes por ano é um praticante? O cara que fumou um charuto para comemorar o nascimento do filho é um fumante? É preciso definir melhor esse conceito, para o ditado ficar mais ajustado. Não basta praticar, tem que praticar com frequência.

“A prática regular conduz ao melhor do nosso potencial”. Assim está quase perfeito, digo, está muito melhor agora. Dito assim, o ditado não engana ninguém. Ficou claro que a prática tem que ser regular e, mesmo assim, o máximo que atingiremos ainda estará longe da perfeição.

Mas tem uma coisa ainda. Por mais que alguém pratique, o atingimento do máximo que seu potencial permite também vai depender de fatores externos, que fogem completamente ao seu controle. O ditado precisa de um ajuste final.


“A prática regular conduz ao melhor do nosso potencial. Ou não.”

Ps: Um salve pro Rodin, que cedeu gentilmente fotos de suas esculturas para ilustrarem o post.

20 de outubro de 2009

Fincando o pau da bandeira

Raising the Flag

Guerra. Aí está uma coisa estúpida. E provavelmente na guerra seja onde a estupidez se manifesta em sua maior intensidade. Por isso que fotos como essa acima me despertam, em vez de empolgação, antipatia. O cartaz não corresponde ao filme. Querem vender a guerra como algo valoroso, sendo que na realidade é abominável. Certamente se não nos vendessem essa imagem, ninguém iria às armas disposto a matar e morrer pelo país (bleargh!). Contraditoriamente, é também na guerra que os sentimentos mais nobres se manifestam.

Nessa contradição, a guerra se mostra emblema de uma humanidade que não quer mudar. Uma humanidade que se recusa a evoluir onde mais importa, na tolerância e no diálogo. Prefere dar tiros, documentar tudo e depois apresentar como algo digno de medalhas.

A foto acima foi tirada em Iwo Jima em 1945, na segunda guerra mundial. É uma das fotos mais famosas do mundo e possivelmente a mais reproduzida de todos os tempos. E olhando pra ela dá até vontade de ir pra guerra. “Quem sabe eu não dou a sorte de sair numa foto e ficar famoso também”.

Porém, dos seis sortudos da foto acima (sim, tem seis pessoas ali), três morreram na mesma batalha em que a foto foi tirada. Pare e pense na idiotice sem tamanho. Quantos milhares de pessoas morreram nessa guerra? Quantas foram devidamente homenageadas pelo sacrifício? Aí, por causa de uma foto que nada muda, esses caras são tidos como heróis e acabam virando celebridades.

image

Além de tudo isso, tem algo nessa foto que me incomoda muito. O que é que aquele último cara da esquerda está fazendo ali? Com os braços levantados sem nem encostar no mastro, ele está só encoxando o companheiro da frente. Eu não disse que guerra é uma merda?

9 - A Salvação (2009)

9 - Salvação Em quantas partes se divide a alma humana? De que maneiras nosso humor e nossa índole pode variar em um dia, um ano, uma vida? Somos corajosos, curiosos, amorosos, covardes, egoístas, bons e maus. Tudo ao mesmo tempo, nas mais diversas proporções. Da mesma forma que uma Televisão forma infinitas tonalidades a partir de três cores fundamentais, nós formamos nossos sentimentos mais complexos a partir dos mais simples.

O que isso tem a ver com o filme? Tudo. Ou nada. A animação que leva a assinatura de Tim Burton não está sob sua direção ou roteiro, mas tem a sua cara. Um mundo estranho, devastado por uma guerra global, dos homens contra as máquinas (nada original, mas cada vez mais em voga) da qual ninguém sobrevive além de uns pequenos bonecos de pano que, sem explicação, possuem vida.

O filme deixa entendido que não se trata de uma prosopopéia. Os bonecos de pano não são estão ali ocupando o lugar dos humanos, como nos desenhos de Walt Disney, por exemplo. Eles realmente são objetos inanimados que, de certo modo o por algum motivo, ganharam vida.

Além de vida, esses bonecos possuem alma. A cena que logo me despertou a atenção foi justamente que a mostra o primeiro contato entre dois bonecos. A reação não poderia ser mais humana: Um ataque físico, sob o domínio do medo. A primeira atitude social não foi uma tentativa de diálogo, nem tampouco uma apresentação, mas uma porrada.

O filme nos prende pela curiosidade. Quem são esses bonecos, o que houve com as pessoas? E assim a trama vai seguindo, revelando um pouco de cada vez. Mais que revelar as razões da história, a cada minuto nos são reveladas as razões humanas. Por que agimos de determinadas maneiras diante de determinadas situações?

Diálogo entre dois bonecos:

- Quem é esta besta que quer nos destruir, e por que ela quer nos matar?
- Perguntas sem sentido como essas não adiantam de nada.


O que é mais importante, se livrar de uma situação ou compreender uma situação? fugir ou enfrentar? Aceitar ou questionar? É sobre esse tipo de conflito que o filme se desenvolve, de uma forma que nos deixa sempre questionando o que vemos na tela. É um filme que apoiado em cima de perguntas. E dessa forma nos leva muito bem.

A única parte do filme que não me agradou foi o final, fácil demais. Poderia ser melhor explorado. Mas, mesmo não sendo à altura do filme, não compromete a história, apenas a deixa sem aquela sensação de “oohh” que todo filme foda deve causar.

19 de outubro de 2009

Herbalóides

Esse post é uma complementação ao Me engana que eu gosto. Trata-se de um comentário que fiz no site Midia independente no ano de 2006, acerca da empresa Herbalife, mais precisamente, sobre sua forma de trabalho, muito similar às estratégias utilizadas pelas religiões (terroristmo psicológico, falsas promessas, lavagem cerebral e banhos de água fria). Eu já fui a uma reunião da herbalife e, acredite, é quase tão degradante quanto um culto da universal. Tem que ser mesmo trouxa pra acreditar naquela farsa. É, tá explicado o sucesso deles.

 

Alerta Atenção!

Este post contém mais de oitocentas palavras, e apenas duas figuras. É recomendável que o leitor possua pelo menos o primeiro grau completo para aproveitar ao máximo toda essa baboseira o artigo.


É óbvio que o faturamento dessa empresa (Herbalife, não a igreja) vem dos próprios distribuidores, que "investem" em treinamentos e produtos. São iludidos, na verdade, pela sua própria ganância. Esses iludidos não são enganados pela empresa ou pelos supervisores, são enganados por sí mesmos. Querem se enganar.

Herbalóides Trabalhando

Esse sistema funciona tão bem no Brasil por causa do caráter da nossa população, extremamente gananciosa e, ao mesmo tempo, um tanto preguiçosa, sempre à procura de uma "fórmula mágica" para transformar suas vidas.

São pessoas com complexo de cinderela, à espera do príncipe encantado para terem um final feliz em suas vidas. A Herbalife se apresenta como esse príncipe, a solução de todos os problemas financeiros, que promete rendas excelentes em pouco tempo. No final o príncipe vira sapo.

Acredito que as pessoas podem se comportar de três maneiras em relação às promessas falaciosas da herbalife:

  1. Vão numa reunião e percebem logo de cara o golpe, a canoa furada que é a promessa de ficar rico rápida e honestamente sem ser ganhando na loteria. Essas pessoas são as sensatas, não aceitam argumentos superciciais e nem apelos emocionais. Os que colocam a razão em primeiro plano, as pessoas inteligentes, digamos assim, percebem que se trata de um sistema de pirâmide e não entram.

  2. Tem as pessoas que decidem experimentar, com a resolução de não se comprometerem financeiramente, decidem aplicar apenas o que ganharem. Compram o kit inicial e querem ver se ele se multiplica como prometido. Ao perceberem que o esforço é o mesmo ou maior que o mercado tradicional para ter lucro, desistem sem grandes perdas, foi apenas um pequeno investimento sem retorno. Essas pessoas são um puco mais "esperançosas" mas sem perder a noção da realidade.

  3. Por fim, tem as pessoas que se empolgam totalmente e entram de cabeça. Essas deixaram a razão de lado, entraram em um estado mental alterado onde argumentos lógicos não valem. Criam um filtro em suas mentes onde apenas os casos de sucesso são considerados. É semelhante com o que ocorre no fanatismo religioso, a razão é substituída integralmente pela fé. O deus é o dinheiro, são os seguidores de Mamon. São as mais gananciosas e mais fáceis de serem iludidas.

Infelizmente as pessoas do último grupo só abandonam o sistema quando estão falidas, quando dilapidaram totalmente seu patrimônio.

Tem pessoas que ganham algum dinheiro, algo em torno de, digamos, R$5.000,00 bruto por mês. Mas deduzindo os gastos com a manutenção do sistema, deve sobrar algo em torno de R$1.000,00, ou seja, um salário de padrão de comerciário, só que sem carteira assinada, FGTS nem nada.

Fortuna

Essas pessoas se iludem, sempre acreditando que o dia de amanhã será melhor, o "Dia da virada", mas esse dia nunca chega.

Assim como a Amway (alguém lembra dessa? Eu conhecia um cara que acreditava que ia ficar rico vendendo limpa-vidros), esse negócio vai implodir dentro de algum tempo, questão de matemática, deixando uns poucos no lucro, que se contam nos dedos das mãos, um parcela pequena de pessoas no equilíbrio ou perdendo pouco, e milhares ou dezenas de milhares no prejuízo.

Se o negócio fosse realmente honesto e lucrativo, não seria necessário o distribuidor injetar seu próprio dinheiro, bastava a Herbalife consignar os produtos e o distribuidor pagaria quando recebesse, como faz a Avon ou a Revista Hermes, onde os distribuidores vendem por catálogo sem precisar comprar todo o estoque para depois vender (ou não vender, o que é mais comum). Mas não, são obrigados a comprar para enrtar no esquema, e isso deixa claro que o faturamento vem dos distribuidores e não dos consumidores.

E por fim, para ganhar dinheiro nesse sistema, é preciso que a pessoa seja desprovida de escrúpulos, pois ela precisa trazer novos distribuidores para comprar, mesmo sabendo que as chances de sucesso são quase nulas, e para isso tem que mentir, prometendo rendimentos inalcançáveis na prática. Concluindo, mesmo que a pessoa fique rica (uma em um millhão) será à custa do fracasso alheio.

Termino dizendo o seguinte:

  • Quer ganhar dinheiro? Trabalhe!
  • Quer ganhar muito dinheiro? Trabalhe e estude MUITO, seja o melhor e inovador!
  • Quer ganhar dinheiro sem esforço? Jogue na Mega-Sena e ganhe (arriscado) ou MONTE uma pirâmide (desonesto).
  • Quer se iludir e perder dinheiro? Entre em uma pirâmide.

 

P.S.: Um artigo esclarecedor e totalmente idôneo pode ser lido aqui.

18 de outubro de 2009

Hitler Superstar, o garoto propaganda

Passados mais de sessenta anos da queda do terceiro reich e da morte de Adolf Hitler, seu nome continua famoso e polêmico. O cara se tornou a personalização de tudo que é abominável e, vez por outra, surge uma polêmica envolvendo o nome daquela bichona histérica do facínora austríaco. O fato é que o nome e os atos de Hitler continuam bem vivos na memória de todos.

E os publicitários sabem disso. Não é raro surgir uma campanha que faça referência a ele, geralmente relembrando, em tom de advertência, sua atuação abominável ou então ridicularizando sua imagem. É audiência e circulação espontânea na certa. Porém, em se tratando do homem do bigodinho, todo cuidado é pouco na hora de montar qualquer propaganda, pois qualquer deslize pode gerar um efeito negativo, rejeição e até boicotes contra o anunciante.

Uma campanha controversa é, por exemplo, a feita por um museu de cera na Tailândia, que resolveu colocar um outdoor do fuhrer fazendo a famosa saudação nazista, e com os seguintes dizeres: Hitler não morreu. o.O

hitler

Mau gosto? Sim. Funciona? Certamente.
Apesar da mensagem ambígua, a campanha surtiu o efeito esperado. Divulgar o museu. É aquela velha história de não existir publicidade ruim, falem mal mas falem de mim, etc.

No fim das contas, após alguns protestos, o museu cobriu o outdoor e pediu desculpas.



Os caras quiseram causar polêmica e chamar atenção. Conseguiram. O lance todo é que a mensagem da campanha ficou indefinida. Não havia nenhuma clareza quanto à intenção da mensagem e da imagem no outdoor. Hitler não morreu? como assim? seus ideais continuam vivos e o partido nazista pode ressurgir em breve? Ou será que Hitler foi imortalizado por meio da escultura de cera exposta no museu? Faltou uma posição clara na campanha, intencionalmente – creio eu.

Eu prefiro as campanhas engraçadinhas.

hitler-black-people[1] hitler-condom[1]

Veja outras campanhas aqui.

17 de outubro de 2009

Me engana que eu gosto

Estava olhando minha caixa de spams, e lá tinha um convite bem modesto, de uma tal Associação Frutos da Terra – AFTB.

Casa própria financiada em 30 anos sem juros.

Spam

Uadarrél?
Isso mesmo. Uns caras muito bonzinhos resolveram ajudar os outros, e decidiram acabar com o déficit habitacional do país. Eles querem que todas as famílias brasileiras tenham sua própria casa. Que lindo isso.

Ao fim do email, paira convidativo o link para o site da associação. E agora, cadê a coragem para clicar no link? Passo o mouse por cima e vejo que direciona para um domínio .com.br.
Menos mal, pelo menos não é nenhum site hospedado em algum país da Ásia setentrional, e o link não é para algum script suspeito, tipo: /trojanfromrel.php?action=_acabacomesseotario.

Mesmo assim não cliquei. Fui no Google e digitei o nome da associação, para ouvir o que o oráculo tinha a dizer sobra a tal associação. E… (passe o mouse aqui)


Rááááá

Não passa de mais uma Pirâmide pra enganar otário empresa de Marketing Multinivel. Esse tipo de gente vende de tudo: Shake para emagrecer, limpavidros, cartões de crédito, vagas no céu e, agora, casa própria.

Eu queria acreditar…


…Mas a lógica me impede. Olha só a proposta dos caras: Você se associa e, no ato, informa o valor dá casa que quer comprar. Então por 30 meses, você paga uma taxa “simbólica” de 0,1% do valor do imóvel (você quer R$ 100 mil e paga – Antes receber um centavo sequer, R$100/mês por 30 meses). Após esses trinta meses, se vc pagou direitinho sem atrasar nenhuma prestação, eles fogem com seu dinheiro te dão uma carta de crédito no valor que você escolheu, e você passa a pagar o valor dessa carta em prestações mensais sem juros.

Só que uma dúvida fica martelando minha cabecinha. É obvio que esse valor pago antecipadamente não é suficiente para gerar o funding necessário para tal operação de crédito. Então devemos supor que o dinheiro (caso recebêssemos) seria oriundo de outro lugar. Ora, então pra quê pagar antecipadamente por 30 meses, se esse valor pago não é uma poupança para gerar o fundo?

Só tenho uma resposta: É o tempo necessário para arrebanharem alguns milhares de incautos esperançosos, receberem um boa grana dessas prestações mensais, e darem no pé deixando uma multidão de lesados. Fikadik. Abre o olho. É uma cilada, Bino!

Fazendo um bico

A situação não tá facil pra ninguém. Pra sobreviver hoje em dia a gente tem que assoviar e chupar cana ao mesmo tempo. Passeando pelo youtube, achei um vídeo o David Beckham tocando violão e outro do Harry Potter tocando piano. Saca só:



16 de outubro de 2009

Relicário

O que está acontecendo?
O mundo está ao contrário e ninguém reparou
.
Aviso: Esse post é um pouco confuso (classe 4, numa escala de 0 a 10), pois pretende abordar um tema que tem diversas vertentes. Então vai ficar num vai-e-vem da porra. Leia por sua conta e risco e se não entender lhufas, só lamento.
 
Quando, no trabalho, aparece aquele sujeito que não tem ambição de ser promovido e, para ele, ser lavador de tomates está bom demais, O que se pensa dele?

Os chefes não costumam gostar desse tipo de gente acomodada. Para eles, empregado bom é aquele que sonha em ser o presidente da empresa (mas calma aí, a empresa só pode ter um presidente). As pessoas acreditam nessa balela, acham que para ter sucesso, tem que ter destaque. Mas para alguém se destacar na multidão, tem que ter todas aquelas outras pessoas formando a multidão. E essas pessoas na multidão são todas fracassadas?

Se aceitamos que ter sucesso é  se destacar, então aceitamos que o sucesso é para muito, muito poucos. E se felicidade e sucesso andam juntos, o destino da maioria é ser infeliz.

Num xóla, titi neném...
Você conhece alguém que não queira ter uma casa própria, um carro zero quilômetro e uma televisão Full HD de 60 polegadas? Todo mundo quer, eu quero.
Contudo, tem alguma coisa errada atualmente, pois parece que as pessoas não apenas querem bens materiais, elas parecem precisar deles para se sentirem realizadas e vencedoras na vida. O consumismo está tão enraizado na nossa cultura que a grande maioria passa a vida perseguindo tais conquistas materiais.
Não sou absolutamente contra bens, conforto, nada disso. Ao contrário. E longe de mim querer me meter nas ambições de quem quer que seja. Se para alguém, ser feliz é ser o mais rico da rua ou o mais importante no local de trabalho, boa sorte. Porém, eu tenho convicção que tais valores, se forem universais – e parecem caminhar nesse rumo – causam a frustração de muita gente.

Explico

Ao que tudo indica, medimos a nossa felicidade pelos outros . A realização individual depende da situação do próximo. Para termos sucesso, não basta sermos bons, temos que ser os melhores. A competição tomou conta de tudo, e isso só pode dar merda. Não dá pra todo mundo ser o mais rico, o mais importante, o mais inteligente ou o mais bonito. Para sermos “o mais”, todo o resto precisa ser “o menos”.

Vejam o caso do Rubinho Barrichello. O cara virou uma espécie de anti-herói nacional, a despeito de todas as suas conquistas. Por quê? Simplesmente porque não é o melhor. Não estou aqui entrando no mérito de ele se considerar ou não uma pessoa de sucesso, mas na associação generalizada que se faz da sua história no automobilismo como um exemplo de fracasso. 

Sorria, meu bem, sorriiiiiiaaaaaa...
Eu tenho um amigo que é cineasta. Ele está sempre envolvido em algum projeto.  Lembro de uma conversa em que ele disse que uma ex-namorada o desencorajava constantemente, por considerar que ele jamais teria sucesso em tal atividade. Para ela, Um cineasta bem sucedido seria aquele que conquistasse fama e fortuna, lotasse os cinemas com seus filmes e ganhasse o Oscar. Porra, se eu quero ser cineasta, escritor ou frentista, é porque eu quero fazer filmes, escrever livros ou encher tanques de carros. Ser reconhecido ou não é outra história.

“Não tenho tudo que amo, mas foda-se.”

Mas é assim que as pessoas pensam. O cara quer ser músico, não por que ama a música, mas por enxergar na música uma possibilidade de reconhecimento. Medem o sucesso pelo reconhecimento das outras pessoas, e estão a todo momento mendigando por tais reconhecimentos, e então cria-se um círculo vicioso, uma farsa coletiva onde todo mundo é ator e platéia. Todos fingem ter sucesso, e reconhecer o sucesso do outro. Só que fingimento não dá sustança. Apenas o sentimento genuíno é gostoso e alimenta.

(Esse post foi inspirado
nesta entrevista.)

Jackie Brown (1997)

Jackie Brown é uma aeromoça negra de quarenta e quatro anos. Já na fase descendente da vida, ela carrega no olhar um peso de quem quem sempre batalhou muito mas, devido às ironias da vida e algumas escolhas erradas, não conquistou nada. Ela olha quase sempre para o vazio, e é lá que ela se encontra.

Jackie Brown

Depois passar uma vida inteira sendo usada ela resolve cobrar a conta. E assim que surge a oportunidade ela põe em ação o seu plano que, se der certo, garantirá a sua aposentadoria. Nada mais justo, já que seu direito à uma velhice tranquila foi arrancada por aqueles que sempre abusaram dela. É assim que ela vê os homens, como aproveitadores que vêem nela apenas uma ferramenta para atingirem seus objetivos. Ela também carrega isso no olhar.

- Quem é o negão na foto, que você está com o braço em volta?
- Aquele é Winston, ele trabalha aqui comigo.
- E vocês são amigos?
- Sim.
- Aposto que foi sua idéia tirar essa foto, não foi?

Quando surge Max Cherry, o agente de fianças, ela sabe que finalmente encontrou alguém em quem pode confiar. Mesmo depois de haver emitido mais de quinze mil fianças em toda sua vida e conviver diariamente com criminosos, tendo que caçá-los às vezes, Max não está endurecido ou insensível. Seu olhar é o oposto de Jackie. É um olhar sereno de quem passou por muitas situações e soube lidar com elas, e tirar proveito delas.

So far, so good

Até agora, Tarantino não tem decepcionado. Cada filme seu vale a pena ser visto, e ainda não teve nenhum que eu não gostasse. É certo que ele mantém sempre os mesmos elementos em seus filmes. Mas e daí? São bons elementos, e ainda não cansaram.

Apesar de ser um roteiro adaptado, a história oferece várias chances para Quentin Tarantino explorar sua forma de fazer cinema. Os diálogos viajantes, a morte que ninguém espera, a trilha sonora carregada de nostalgia. Sem contar é claro, com o enredo que prende totalmente a nossa atenção. Não se sabe o que vai acontecer, não dá nem pra arriscar. Isso é Tarantino.

15 de outubro de 2009

A Internet e o anonimato

É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato
Art. 5°, IV da Constituição Brasileira

Anonimo É muito mais fácil sermos sinceros quando estamos anônimos. Sem a preocupação de sofrer algum tipo de represália, podemos expressar verdadeiramente nossos sentimentos e opiniões. Contudo, como se observa no milhões de comentários espalhados pelos blogues, orkutes e youtubes da vida, O comentários anônimos são, muitas vezes, ofensivos. O anonimato é antes de tudo, covardia. E a covardia é a pior das mazelas humanas.

Felizmente a atual estrutura da internet permite, tolera e até encoraja o anonimato. Peraí, você disse “felizmente”? Sim, foi isso que eu disse.

Explico

O anonimato na internet adquire uma proporção tão grande que acaba perdendo muito da sua propriedade destrutiva. Mas isso não o torna correto, embora o torne mais tolerável. São tantas as ofensas anônimas que acabam por diminuir sua importância. Cada ofensa ou ameaça anônima é só mais uma entre tantas.

Contudo, a razão que me leva a apreciar, de certa forma, o anonimato – em seu conceito – é que nos oferece um maravilhoso laboratório de observação da moral. Somente os comentários anônimos podem ser verdadeiros, pois não há no autor nenhuma preocupação além de expressar o seu sentimento ou opinião mais sincera.

Cabe ao interlocutor passar a joeira e recolher o que considerar útil. Em vez de se combater o anonimato, muito mais valoroso é educar as pessoas para desenvolverem senso crítico, de forma que possam avaliar tudo que lhes é apresentado. Um bom observador sabe que comentários anônimos são, de uma forma ou de outra, valiosos.

A teoria na prática

fingerprint O conteúdo da maioria dos comentários anônimos serve tão somente para confirmar o que já se sabe: As pessoas são intolerantes. Não digo nem que sejam más, mas intolerantes. Não sabem como agir diante de uma situação que se oponha aos seus valores. Então, tomadas por um bloqueio mental, martelam palavras que expressam, antes de suas idéias, seus sentimentos naquele momento, protegidas pela certeza de que não precisarão repetir tais palavras face a face com seu destinatário.

Se é assim que somos, que assim sejam os nossos comentários.

Contudo…

Apesar do que eu disse, existe o outro lado da moeda que merece ser levado em consideração.
Como as pessoas agiriam se todas as suas manifestações na internet fosse identificadas? De imediato, deduzo que iriam pensar duas vezes antes de enviar qualquer conteúdo ofensivo. E onde entra o pensamento, sempre há ganho. Se por um lado afastamos as pessoas do seu lado emocional, por outro lado as aproximamos de seu lado racional.

E você, é contra ou a favor do anonimato na Internet? Prefere ler uma sinceridade anônima ou uma falsidade devidamente assinada?

[Blog Action Day] Salve-se quem puder!

Prefácio

Blog Action Day. Hoje é o dia em que milhares de blogueiros ao redor do mundo se unem para, em uma só voz, abordar um tema de interesse coletivo. Excelente iniciativa, ainda modesta, mas que se aproveita do poder da internet.

Blog Action Day Segundo o site oficial, são aproximadamente 12 mil blogues e 13 milhões de pessoas escrevendo, lendo e discutindo sobre o mesmo tema hoje: Mudanças climáticas.

Save the Planet?

Tão comum quanto camiseta do Tchê, é o bordão “Vamos salvar o planeta”.
Quê? Salvar o planeta, como assim?

Pelo que sei, essa merda toda que estamos fazendo com o nosso habitat: poluição, desmatamento, exploração desenfreada, destruição da camada de ozônio, extermínio da fauna e flora, garrafas pet e o Datena, tudo isso está se voltando contra nós. Nós estamos nos fudendo, mas o planeta vai bem, obrigado.

Se tudo isso culminar no extermínio da raça humana, certamente em uns poucos milhares de anos o planeta se recuperará. A terra continuará firme e forte por alguns milhões de anos, conosco ou sem nosco.

Veja a fantástica apresentação de George Carlin sobre o tema (que Deus o tenha)

A criança e os abutres

Sudão

Sudão, março de 93.


Hoje é um dia quente, como todos os outros. Não como há vários dias. Nem sinto mais fome, na verdade sinto apenas cansaço. Se ao menos eu tivesse um pouco de água para aplacar minha sede, já me sentiria melhor.

Vou tentar juntar forças e caminhar até o centro de alimentação. Se conseguir chegar viva, estarei salva, terei comida e água para sobreviver mais alguns dias. É a minha única chance.

Com essa esperança, a menina sem nome parte para o centro de alimentação. Mas a fraqueza é tanta que antes de chegar ao seu destino ela se prostra, entregue ao cansaço. O sol chicoteia suas costas e a poeira da terra invade seu nariz e sua boca. Só lhe resta gemer.

O gemido ecoa pelo ar quente e encontra amparo nos ouvidos de Kevin Carter. Ao se aproximar, diante da cena brutal, saca a sua câmera e começa a fotografar. Uma, duas, dez, dezenas de fotos. Circula ao redor da pequena moribunda procurando o melhor ângulo. Até que, repentinamente, um abutre invade o enquadramento. que cena!

- Se ao menos ele abrisse as asas, daria uma foto muito melhor. Pensa carter. E nessa esperança, aguarda por vinte minutos. Infelizmente o abutre não colabora e as fotos são feitas assim mesmo, de asas e coração fechados.

Essa foto resultou em um Pulitzer e, provavelmente, no suicídio de Carter no ano seguinte.

14 de outubro de 2009

Highlander (1986)

Só pode haver UM!

McLeod Highlander é um daqueles filmes que sempre estiveram na minha lembrança como um grande clássico dos anos oitenta. Quando assisti pela primeira vez eu devia ter uns 11 ou 12 anos e fiquei bastante impressionado. Algumas cenas e o famoso bordão “só pode haver um!” permanecem firmes até hoje.

Imbuído de um saudosismo enorme, resolvi assistir novamente – mais de vinte anos depois. Eu havia comprado o filme há mais de um ano atrás por R$12,90 nas lojas Americanas, mas ainda aguardava a vontade de revê-lo. A vontade veio hoje.


É obvio que ao assistir o filme levei em consideração a época em que foi feito, e sob quais circunstâncias sociais e culturais a obra foi realizada. Porém, o que torna uma obra em um clássico são justamente as qualidades que não desaparecem com o tempo. E nesse ponto Highlander falha. Não falha desastrosamente, mas falha.

Ao assistir hoje percebo um roteiro e uma edição demasiadamente confusa. Tanto na linha mestra do enredo como nas cenas, individualmente. Tome por exemplo a luta inicial de McLeod no estacionamento do Madison Square Garden. Achei de péssima qualidade. Chegou a ser brochante. Eu estava todo animado para ver o filme, naquela expectativa, e logo de cara recebo um banho de água fria.

Superado esse momento, começa a explicação do que se trata o filme. Um bando de guerreiros imortais que atravessam os séculos caçando uns aos outros e arrancando suas cabeças, na tentativa de serem o último sobrevivente dessa ordem, sobre o qual recairia um grande mistério (o mundialmente famoso “Só pode haver um"!”). Sensacional! Temos aqui um argumento de primeira. Infelizmente o filme não dedica espaço suficiente para explorar toda essa mitologia que sustenta o filme. As explicações, em forma de flashbacks, são muito curtas e confusas.

McLeod Por outro lado, temos tempo perdido com cenas, no mínimo, estranhas, como toda a sequência da luta de Kurgan contra Sunda (não, não é piadinha infame. É esse o nome do personagem). Vejamos: Temos um cara que, do nada, anda de carro pelas ruas da cidade com um arsenal no banco do carona. Passeando pelos becos, ele avista dois imortais batalhando (não mostra como se encontraram e nenhum dialogo. Estão apenas lutando de espada, do nada) Após arrancar a cabeça de Sunda e ser metralhado pelo maluco do carro, Kurgan sai em fuga dentro de um carro com uma velhinha pendurada no parabrisas. Diabéisso, gente?

É esse tipo de cena que estraga o filme, e não deixa que ele entre na minha relação de grandes filmes fodas de todos os tempos. É uma grande história que foi desperdiçada.

Como uma deeeeeusaaaaa.. Queen

Um dos grandes méritos do filme é a trilha sonora, composta pela bandinha de Freddy Mercury em canções feitas especialmente para o filme. E estamos falando de grandes sucessos, como A kind of magic. As músicas se encaixam muito bem no clima épico do filme e criam um ambiente perfeito, principalmente nas cenas passadas na Escócia medieval.

Mérito

Highlander conseguiu criar uma ótima mitologia de guerreiros imortais, que permanece viva até hoje. Algumas partes da história são realmente bem boladas interessantes, como os métodos que McLeod utilizava para obter identidades falsas e manter seu patrimônio acumulado durante 500 anos.

Acho que X-men Wolverine foi muito inspirado nesse personagem. São muitas as semelhanças – Vida longa, relacionamento dificil com as mulheres, as lâminas (das garras e da espada), o poder de recuperação física e a quase imortalidade.





Demérito

Muito tempo perdido com cenas irrelevantes e mal feitas. Edição confusa e o pouco tempo dedicado a contar direito a história. Enquanto McLeod é razoavelmente bem apresentado, os demais imortais, incluindo o personagem de Sean Connery, são muito mal trabalhados e simplesmente caem de paraquedas no filme.

No frigir dos ovos

Highlander é um filme que merece ficar na memória, pelo que representou em seu tempo. Seria ótimo se houvesse um remake, desde que fiel ao argumento original.

Maitê, Júnior e a conspiração portuguesa

Eu lembro de um episódio dos Simpsons que se passava no Rio de Janeiro, o cenário era uma cidade cheia de macacos e ratos, pivetes e marginais. Quem conhece a série sabe que sua principal característica é a crítica ácida e contundente. Não foi exclusividade do Rio de Janeiro ser retratado de forma depreciativa e caricata. Tudo nos Simpsons é assim.

cartão vermelho, d'Oh!
Mas a verdadeira piada foram os protestos por parte da Embratur e também pelo secretário de turismo do Rio. Uma idiotice sem tamanho que foi devidamente tratada com chacota pela imprensa internacional. É o Brasil-il-il bancando o trouxa perante o mundo.

Recentemente caiu na net um vídeo da Maitê Proença fazendo umas confissões sobre sua estadia em um hotel no país de Camões. Ela conta, com humor, a dificuldade que enfrentou ao ser atendida por um funcionário do hotel. Interessante que o Júnior (irmã mais nova da Sandy) também passou por uma situação peculiar em um hotel português, e relatou a experiência no Programa do Jô.

burro Seria mera coincidência? Acho que não.
E nem quero acreditar que os hotéis de Portugal possuam um atendimento tão ruim, ainda mais hotéis em que astros da televisão se hospedam. Há algo de podre no Reino da Lusitânia. Eu desconfio de um complô, o maior que já se armou. Os funcionários devem rir-se às escondidas por trás dos balcões.

Com toda certeza, estão nos fazendo provar do nosso próprio veneno. “Ora pois, os gajos de Brasil estão a nos chamar de burros. Pois mostraremos a eles como podemos ser burros”


É o conto de Midas moderno. Primeiro os famosos, depois qualquer brasileiro que por lá desembarcar será torpedeado com as burrices que julgam possuir os Manoéis e Joaquins. Até nos fartarmos e jurarmos nunca mais pormos os pés em solo português. Só assim conseguirão se livrar dos dentistas e putas que invadem o país.

13 de outubro de 2009

Inglorious Basterds (2009)

NEIN, NEIN, NEIN, NEIN, NEIN, NEIN!

Em Bastardos inglórios podemos apreciar Quentin Tarantino em sua forma mais apurada. E por falar em forma, nesse filme a forma supera o conteúdo. Quero dizer com isso que a história e o argumento em si não tem nada de extraordinário, mas a forma como a história é contada nos deixa apreensivos e presos ao filme durante todo o tempo, os diálogos estão tão bons quanto em pulp fiction ou reservoir dogs.

tarantino Temos bem definidas, e em sua melhor expressão, todas as características que identificam o autor: As referências ao bang-bang, com seus planos abertos e trilha sonora peculiar, a divisão em capítulos, os diálogos demorados e geniais, os personagens cruéis e muita violência.

 


Uma outra característica que eu aprecio em Tarantino é que em suas histórias está sempre presente o caso fortuito, a infeliz coincidência, o pequeno erro que tem o potencial de mudar completamente o rumo predefinido, e de fato muda. E nessas aplicações da dei de Murphy a arte imita a vida que, não importa o quão pensada e planejada, sempre termina nas mãos do imprevisível acaso.

Hitler, aquela titia estressada

A minha cena predileta do filme é quando Hitler aparece pela primeira vez, vestindo uma capa longa vermelha por cima da farda, com a mãozinha na cintura, tendo uma crise histérica, também conhecida como chilique. Estava possessa, a menina. Existem alguns historiadores que questionam a sexualidade do führer, e essa cena explorou bem essa faceta controversa do vilão da II guerra.

Me segura que eu tô louca. LOU-CA!

Roteiro

Existem algumas situações no roteiro que considero falhas, que durante a exibição não damos muita importância, mas depois, ao remoer o filme, questionamos. Como bem disse um amigo meu, nas chamadas perguntas de geladeira.

Pergunta de geladeira é aquela pergunta que surge involuntariamente quando estamos em casa, umas quatro horas depois do filme. Nosso subconsciente fica recapitulando o filme, digerindo as cenas, e então manda uma mensagem para nosso consciente, geralmente quando estamos na cozinha, na frente da geladeira escolhendo algo para comer ou beber.

Totalmente absurdo, por exemplo, que todo o alto comando da Alemanha se reunisse em um cinema na França, principalmente com os aliados já desembarcados na Normandia. Isso é uma falha de roteiro, na minha opinião.

Linda Bastardos Inglórios é um dos melhores filmes que vi no cinema nos últimos anos. Em uma avalanche de filmes que não acrescentam nada, é gratificante ver um filme de autor com tanto destaque. Trata-se de um bom gole de água gelada em meio a uma causticante jornada no deserto árido dos filmes secos da atualidade. Recomendadíssimo.

12 de outubro de 2009

Eu tenho medo do azulejo do banheiro

Tá, medo é exagero. Mas achei esse que seria um título bem legal para o post.

O fato é que os azulejos do banheiro aqui de casa formam um desenho bem nítido para mim. Eu vejo claramente em cada um deles a figura de chihuahua com penteado moicano, olhos fundos e um brinco de argola pendurado na orelha. Não, eu nunca entrei drogado no banheiro.

Esse chihuahua me acompanha já há alguns anos. Sempre que estou tomando banho ou fritando um quibe em água fria ele está lá me encarando, imóvel. Acho que ele não gosta de mim, ou é muito tímido, pois ele nunca diz nada. Mas é uma boa companhia.

Tá vendo ele alí?

Você consegue ver na foto ao lado? Ele está bem ali, no canto superior esquerdo. Apesar do visual bem radical, ele não tem uma aparência agressiva. É até bem simpático. Essa é a minha décima-primeira prancha de Roschach, exclusiva e exibida em meus momentos mais primitivos.

Antes que faça qualquer julgamento, digo em minha defesa que tem gente que vê – e vende – torradas com imagem da virgem Maria, Michael Jackson e até o Zina do pânico.

E você, onde costuma encontrar imagens involuntárias? Em azulejos, nuvens ou guardanapos usados? O que costuma ver? Rostos de animais e pessoas, ou objetos inanimados?