22 de outubro de 2009

Karateka

Quando eu tinha lá pelos meus 11 anos, meu pai comprou um videocassete betamax. E ninguém mais tinha aquela porra, só a gente. O mundo inteiro usava VHS, menos nós e o presidente da Sony. Por causa disso, a única locadora que encontramos ficava no largo do machado, e na época morávamos em botafogo. Mão na roda.

Na galeria comercial onde ficava a locadora havia também uma loja de computadores, bem atualizada, diga-se de passagem. Foi lá que vi pela primeira vez um Plotter e um Disquete de oito, eu disse oito, polegadas. E foi nessa loja que eu vi pela primeira vez, num monitor fósforo verde, o jogo Karateka.

Fósforo verde é velho pra dedéu

Que cena! O impacto foi tão grande que até hoje eu lembro desse dia, e de como fiquei maravilhado com o que os computadores eram capazes de fazer. Até então, minha referência de jogos eletrônicos era o Atari 2600.

O jogo era mesmo muito bom. Logo no inicio o personagem surgia escalando um desfiladeiro para chegar até a fortaleza onde sua amada estava encarcerada. E isso criava uma atmosfera em torno do jogo. O Karateka tinha história. Ele não nasceu alí de frente para aquele chifrudo, ele teve que vir de algum lugar e escalar até chegar ao seu oponente. Isso foi inovador, eu nunca poderia pensar que um um jogo também poderia ser uma história e, mais que isso, um história vivida por mim e cujo final dependia de mim.

Capa original Até então, tudo o que eu conhecia de videogames eram os jogos de loop infinito como Pac-man, Enduro, River raid, Pitfall (eu tinha um amigo que jurava que tinha terminado o pitfall do atari). Eram jogos que não tinham nenhuma história, possuiam apenas um cenário que se repetia monótona e indefinidamente. E não era só nisso que o jogo impressionava. Os gráficos eram de uma beleza única também. O movimento dos lutadores, os golpes. Tudo era perfeito.

Na época, o mercado de jogos de computador era bastante restrito, mas o jogo atingiu enorme sucesso e foi lançado em diversas plataformas além do original apple II, atari, IBM, commodore 64 e Nintendo. Ao todo, o jogo vendeu mais de quinhentas mil cópias. Um número espetacular para 25 anos atrás. Baseado em Karateka, cinco anos depois foi lançado Prince of Persia, que talvez seja o jogo mais antigo ainda em continuidade, depois de Mario Bros.

Curiosidade

Na década de 80 ninguém tinha o hábito de baixar jogos pela internet. Eles eram vendidos em cassete (eu disse caSSéte, com dois esses e acento no “e”) ou disquetes. A versão para Apple II era vendida em um disquete aparentemente single-sided, mas no outro lado vinha um easter egg, uma versão do jogo que rodava de cabeça para baixo. Então, quando alguém inseria o disquete invertido aparecia o jogo de ponta cabeça, e se ligava para reclamar do defeito  recebia como resposta “Retire o disquete, insira com o lado correto para cima, e reinicie o jogo”. Genial.

Aí vai o site do Jordan Mechner, criador do jogo. Vale a pena conferir.

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