7 de abril de 2010

Desagravo à preguiça

Se tem um tipo de gente que eu admiro, é o preguiçoso.

A preguiça é uma das maiores qualidades que uma pessoa pode ter. Ser preguiçoso é estar ciente da sua impotência diante da ordem instaurada e não se importar. É dar de ombros. É dizer foda-se.

Ter preguiça é, antes de tudo, tomar uma atitude. O preguiçoso não se aflige, não sofre pelo que não conquistou e não sonha em acumular "riquezas", assim, entre aspas. Afinal, conquistar e acumular dá muito trabalho. E para quê mesmo? Para ter uma boa vida? Mas tem vida melhor que a do preguiçoso?

A preguiça é a característica humana mais injustiçada. É a virtude tomada por vileza. É considerada até um pecado capital (e aqui abro um parênteses para dizer que só pelo fato de ser considerada pecado, já ganha pontos comigo). Ninguém em sã consciência admite ser preguiçoso. Ninguém põe no currículo que adora acordar tarde ou que procrastina habitualmente. Todos se orgulham em dizer como trabalham duro durante dez, onze, doze horas por dia. Se orgulham de não ter um único minuto livre durante seus dias. É academia, é inglês, é cursinho, é o trabalho, são os filhos, são as compras, é o diabo a quatro. Sentem-se santos como aquele cara de Belém (não estou falando do Chimbinha) quando fazem cara de esgotados e murmuram, derrotados, que não têm tempo para nada.

Foda-se o trabalho, foda-se a ocupação. Foda-se o pseudo-sucesso pasteurizado que é empurrado por nossas goelas abaixo. Sucesso é não ter que se preocupar. Sucesso é não viver ansioso. Sucesso é entender por que o trabalho é tão valorizado e dizer: foda-se, não quero isso. Eu quero é sombra, agua fresca e uma boa conexão de internet.

Bem, em suma é isso. Tem muito mais coisas que eu poderia escrever, mas tô com preguiça.