23 de fevereiro de 2014

Repressão sexual e Consumismo

Uma idéia comum que as pessoas têm atualmente é a noção de liberdade.
Gostamos de acreditar que somos livres, e talvez sejamos de fato mais livres do que jamais fomos desde a idade média.

Liberdade é o direito de ir e vir, mas não apenas isso. Talvez a verdadeira liberdade ocorra dentro de nós, em nossos valores e nossa visão de mundo. Talvez somente seja verdadeiramente livre aquele que não aprisiona a si mesmo naquilo que aprova ou condena.

Embora hoje nossos corpos tenham uma liberdade imensa para ir onde quiser, nossa mente não goza da mesma liberdade. Nossos preconceitos parecem servir de grades mais resistentes que qualquer cela, pois nos torna carcereiros de nós mesmos, e sempre vigilantes.

Dentre os muitos campos internos - morais e psicológicos - em que limitamos a nossa liberdade, me chamou a atenção recentemente a repressão que sofremos (e também exercemos) em nossa sexualidade.

É tão restrito o espaço em que podemos atuar sexualmente, que qualquer deslocamento, por menor que seja, é quase sempre interpretado como uma perversão ou imoralidade. É realmente notável como algo tão pessoal e íntimo sofre tanto controle e policiamento.

Em vez de me enveredar pelas mais diversas inclinações e pulsões sexuais a que nós todos estamos sujeitos, quero abordar o tema sob outro prisma: O de que talvez toda essa repressão sirva a uma finalidade outra, além de resguardar os bons costumes e valores morais.

Me passou pela cabeça, e é apenas uma sensação que não tenho a menor pretensão de me aprofundar ou de elevar ao status de Fato, que a repressão sexual é deliberadamente reforçada na sociedade para que nossos impulsos sexuais, por meio da sublimação, sejam canalizados para impulsos consumistas.

Na teoria psicanalítica, a Sublimação consiste na busca de modos socialmente aceitáveis para satisfação de vontades não aceitáveis socialmente.

Vagabunda, pervertido, viado, corno, doente, são adjetivos comuns direcionados a qualquer um cujo comportamento sexual não esteja do restrito leque aceito socialmente.

(É óbvio que a sexualidade, como qualquer outra manifestação de nossa humanidade, esta sujeita a adoecer e se tornar uma patologia. Mas não é disso que estou tratando nesse texto.)

Dessa forma temos dentro de nós duas forças muito poderosas lutando incessantemente: De uma lado a pulsão sexual querendo de manifestar plenamente, e do outro lado, toda a repressão psicológica e moral nos dizendo o que podemos e o que não podemos fazer, sendo que aquilo que não podemos é muito mais do que podemos.

Como uma panela de pressão, depois de tempo suficiente no fogo com a tampa lacrada, só nos restam duas opções, explodir ou acionar a válvula de escape.

E patrocinado por toda a propaganda que nos rodeia incessantemente, o consumo de bens materiais se apresenta como a saída mais rápida e mais fácil, reforçada por uma cultura de inconsequência e crédito facilitado.

Há quem diga que o prazer de comprar, segurar e rasgar a embalagem de um produto recém adquirido é comparável ao orgasmo,e talvez seja. E é inegável que muito dificilmente alguém experimentará um sentimento esmagador de culpa após comprar algo somente para satisfazer uma necessidade reprimida de gozar.

Portanto, não parece absurdo afirmar que quanto mais reprimido sexualmente, mais consumista uma pessoa tende a ser. E como gozar é, quase sempre, de graça. Melhor para a economia e para o Lucro reprimir o gozo e incentivar o consumo.