27 de outubro de 2009

Dinheiro!

Uma vez um cara muito doido disse que o amor ao dinheiro é a raiz de todo mal. Então, seus seguidores se espalharam pelo mundo pregando suas palavras. E hoje cobram por isso.

Dinheiro: Meio ou fim? Na teoria é sempre um meio, mas na prática é um fim. Será? Acho que não. Explico.

Hoje em dia o ócio é praticamente imoral. Nós realmente acreditamos que o nosso tempo precisa ser gasto integralmente com atividades produtivas, que na verdade é um eufemismo para trabalho. Aceitamos entregar setenta por cento de nosso tempo em troca de trocados (desculpe o trocadilho =p). Isso significa que vivemos para trabalhar, o que significa que vivemos para ganhar dinheiro. Mas pra quê? Pra comprar coisas. Que coisas? Qualquer coisa, principalmente coisas que você nunca vai precisar.

Uma das utilidades do dinheiro

Não estou aqui pra falar mal do capitalismo e muito menos do dinheiro, mesmo porque eu gosto muito dele. Mas quero sim falar mal do valor que o dinheiro ocupa em nossas vidas. O dinheiro, e o que ele representa, foi elevado ao status mais elevado em nossa sociedade. Medimos o valor de uma pessoa pelas roupas que usa, carro que possui, local onde mora e por aí vai. E sendo essa a referência de Valor, todos perseguimos esse ideal.

E o que leva as pessoas à compulsão de juntar dinheiro, sem haver um destino previamente planejado para esse dinheiro?
Por exemplo, imagine uma pessoa que trabalha seis horas por dia e com o que ganha, consegue se manter e ter uma vida que ela considera confortável. Então ela recebe uma proposta para trabalhar oito horas por dia e ganhar mais dinheiro. Certamente ficará tentada a aceitar. Mas porquê, se ela já tem tudo que necessita para se manter de forma satisfatória e essa proposta requer que ela sacrifique ainda mais o seu precioso tempo? A resposta é que, por mais que ela tenha tudo o que precisa, ela nunca tem tudo o que deseja.

Nunca ninguém está plenamente satisfeito. Queremos sempre mais. É da nossa natureza criar novas expectativas para substituir as que foram correspondidas. E no modelo capitalista essas expectativas se concentram quase que totalmente nos bens materiais. Mal desembalamos a televisão de quarenta polegadas que acabamos de comprar, e já queremos uma de cinquenta, depois sessenta e por aí vai. Por isso que uma pessoa aceita sacrificar seu tempo, desde que isso signifique a possibilidade de juntar mais dinheiro que, por sua vez, significa a possibilidade de saciar mais de seus muitos desejos consumistas.

Agora o pulo do gato.

Dinheiro pra nada e mulheres de graça Por que as pessoas juntam dinheiro, mas hesitam na hora de convertê-lo em satisfação? Porque gostam de manter quantias consideráveis no banco enquanto sonham com o mais novo lançamento? Se temos uma vontade, e temos dinheiro para satisfazer essa vontade, o que nos impede? Eu respondo: As outras vontades.

O consumismo está tão arraigado em nós, que somos incapazes de querer uma coisa de cada vez. Queremos a televisão de cinquenta polegadas, mas queremos também trocar de carro, viajar pra Miami e reformar o apartamento. Oh dúvida cruel! Tantos desejos e tão pouco dinheiro para satisfazê-los. Os nossos desejos evoluem exponencialmente em relação ao nosso dinheiro. Temos mil dinheiros, queremos bens que totalizam dois mil. Temos dois mil? Então o que queremos custa quatro mil, e por aí vai. Não importa quanto dinheiro nós temos, nunca será o suficiente. Nossa vontade é infinita, como a do glutão asqueroso do Sentido da Vida.

Dessa forma, tal qual formigas strippers zumbis, nós juntamos, juntamos e juntamos à espera do dia em que teremos dinheiro para comprar tudo o que queremos. Dia esse que nunca chegará. Além disso, o dinheiro no banco tem um significado muito especial. Significa possibilidades. Mesmo que o dinheiro que temos não compre tudo o que queremos, ele certamente é suficiente para comprar uma parte do que queremos. Enquanto ele estiver lá, quietinho no banco, nós nos confortamos em sonhar com as possíveis satisfações que ele pode trazer. Mas não podemos nunca gastá-lo, senão o sonho acabada, e aquilo que compramos ironicamente deixa de nos satisfazer assim que abrimos a embalagem.

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