15 de outubro de 2009

A criança e os abutres

Sudão

Sudão, março de 93.


Hoje é um dia quente, como todos os outros. Não como há vários dias. Nem sinto mais fome, na verdade sinto apenas cansaço. Se ao menos eu tivesse um pouco de água para aplacar minha sede, já me sentiria melhor.

Vou tentar juntar forças e caminhar até o centro de alimentação. Se conseguir chegar viva, estarei salva, terei comida e água para sobreviver mais alguns dias. É a minha única chance.

Com essa esperança, a menina sem nome parte para o centro de alimentação. Mas a fraqueza é tanta que antes de chegar ao seu destino ela se prostra, entregue ao cansaço. O sol chicoteia suas costas e a poeira da terra invade seu nariz e sua boca. Só lhe resta gemer.

O gemido ecoa pelo ar quente e encontra amparo nos ouvidos de Kevin Carter. Ao se aproximar, diante da cena brutal, saca a sua câmera e começa a fotografar. Uma, duas, dez, dezenas de fotos. Circula ao redor da pequena moribunda procurando o melhor ângulo. Até que, repentinamente, um abutre invade o enquadramento. que cena!

- Se ao menos ele abrisse as asas, daria uma foto muito melhor. Pensa carter. E nessa esperança, aguarda por vinte minutos. Infelizmente o abutre não colabora e as fotos são feitas assim mesmo, de asas e coração fechados.

Essa foto resultou em um Pulitzer e, provavelmente, no suicídio de Carter no ano seguinte.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Fala aí: