12 de junho de 2014

Escravo de conta

Trabalha o mês inteiro. Quando recebe o salário, já está todo comprometido com contas e dívidas: Aluguel, condomínio, conta do telefone fixo, do celular, da tv a cabo e internet, água, luz, escola das crianças. Isso só para citar as despesas fixas, porque a fatura do cartão também vem recheada, sem contar aquele empréstimo consignado ou CDC e provavelmente o cheque especial.

Depois de pagar tudo, do primordial ao supérfluo, vai ver quanto sobrou. Se calculou bem os gastos do mês, não sobrou nada, mas se teve uma despesa extraordinária ou não resistiu e comprou aquele negocinho que vinha querendo há tanto tempo, aí falta dinheiro e tome mais empréstimo, seja rolando a dívida do cartão - pagando o mínimo da fatura - ou renovando o consignado.


 As vezes recebe um aumento. Aí é hora de procurar novas coisas para comprar, afinal o celular já tem quase um ano e está ultrapassado, ou quem sabe comprar aquela trilogia do Senhor dos Anéis em bluray. Não importa como, mas todo dinheiro novo é imediatamente destinado a um novo consumo - geralmente uma nova dívida, pois o bem adquirido quase sempre custa mais que o aumento recebido, e a solução é parcelar em dez vezes sem juros (como se isso existisse).



Assim passam os dias, meses, anos, décadas e uma vida toda endividada, sempre no vermelho, pagando juros altíssimos (mas quem liga, afinal a parcela cabe no bolso) cada vez mais pobre e fazendo os bancos cada vez mais ricos.
O sucesso, atualmente, é só mais um produto na prateleira.
Essa é a realidade financeira da maioria dos brasileiros. São escravos de contas. Escravidão sem chibatas e paus-de-arara; As algemas hoje em dia são muito mais eficientes, pois agora aprisionam a mente e controlam a vontade das pessoas. O comportamento de todos é moldado para uma vida de consumo inconseqüente à base de crédito fácil e caríssimo. Desde a infância somos educados (ou adestrados?) a comprar por impulso coisas que não precisamos com dinheiro que não temos. Isso se chama Consumismo.
A melhor forma de manter uma pessoa aprisionada, é fazendo-a acreditar que é livre.
O consumismo é uma armadilha, uma escravidão. E talvez seja a mais eficiente de todas as formas de escravidão, pois dá ao escravo uma falsa sensação de poder e liberdade. Recebemos pequenas doses de euforia, que confundimos com felicidade, suficientes para nos entorpecer e viciar, sempre que abrimos uma embalagem. E passamos a querer mais. Assim entramos numa espiral descendente onde queremos cada vez mais e a euforia dura cada vez menos, e para alimentar nosso vício socialmente incentivado e cultuado, recorremos aos empréstimos.


Não se engane, se você tem muitas dívidas e não consegue se livrar delas, você não é livre, você é um escravo de contas.

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