2 de novembro de 2009

Fale com Ela (2002)

É ótimo sair de Hollywood às vezes e dar uma volta pelo cinema europeu. Outras formas de contar histórias, outros pontos de vista, outros ângulos de câmera, outra língua.

image O amor precisa ser correspondido, ou é possível amar sem ser amado? Contrariando Roberto Carlos, que canta “…Eu só vou gostar de quem gosta de mim”, Pedro Almodóvar, mostra ocasiões em que o amor é unilateral. Situações em que é uma doação de si mesmo, uma dedicação que não requer reciprocidade. Quando o amor que dedicamos a outra pessoa beneficia principalmente a nós mesmos, trazendo alegria e até um pouco de sentido para nossa vida.

A história

Benigno é um jovem enfermeiro que dedica sua vida a cuidar de Alicia, uma paciente que está em coma há quatro anos. Ele cuida dela com esmero e carinho e, na sua cabeça, eles formam um casal. Ele não se vê apenas como o enfermeiro; Para ele, cuidar vai além de se preocupar com os aspectos práticos tais como dar banho, virar a paciente na cama e administrar a medicação. Ele projeta em Alicia sua dedicação, seu carinho e seu amor.

Antes de cuidar de Alicia, Benigno cuidou de sua mãe por mais de vinte anos. Ela não era doente ou inválida, ele simplesmente foi criado assim. Definitivamente ele não teve uma vida normal, mal saía de casa e tudo o que fazia era pentear, lavar, maquiar e cuidar da mãe. E para ele isso era normal, essa foi a vida a que foi acostumado. Com a morte da mãe, ele transfere para Alicia o mesmo cuidado e os mesmos sentimentos que nutria pela mãe.

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Mas Benigno parece não compreender claramente a situação em que se encontra, ele não se dá conta que seu relacionamento é apenas uma fantasia de sua cabeça. Se Alicia despertar do coma, retribuirá os sentimentos dele? Terá ela alguma obrigação como ele, em função da dedicação que ele teve?

Por outro lado, Marco e Lydia formam um casal que cumprem todos os requisitos de reciprocidade. Exatamente por isso, quando Lydia entra em coma devido a um acidente, Marco não consegue manter o carinho e o amor. Para ele a retribuição era indispensável. Ele não consegue cuidar dela, nem mesmo ajuda as enfermeiras a virá-la na cama. Benigno e Marco encaram o amor de formas diferentes, para um é dedicar-se e doar-se e para outro é uma troca, sem receber não há como dar.

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Definitivamente não é um filme simples e muito menos leve, daqueles que quando termina a exibição, falamos “Hum, que fome. Acho que vou no McDonald’s”. O filme lança muitas questões morais e éticas, e deixa claro que nem tudo é simples e nem tudo pode ser definido como certo ou errado, simplesmente. É uma boa história. Não é o tipo de filme que que faz chorar, melhor que isso, ele te faz refletir.

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