3 de novembro de 2009

O sentido da vida

Qual o sentido da vida? Talvez essa seja a questão pseudo-filosófica que mais atormenta a vida das pessoas. De onde viemos? Por que estamos aqui? Para onde vamos? Questões como essas costumam ter tanta importância que verdadeiras multidões passam a vida procurando as respostas. Geralmente as Religiões apresentam as respostas. Nada mais natural, uma vez que são as religiões que lançam essas perguntas.

Antes de ser uma questão filosófica, o questionamento sobre qual o é sentido da vida é uma questão religiosa ou espiritual, no sentido místico da palavra. Ao se fazer esse questionamento, admite-se implicitamente que a vida, a existência, é dotada de significado e, ainda além, de um motivo. Cabe-nos então descobrir o sentido da vida, ou "Por que estamos aqui?".


Mas por que é praticamente unânime o entendimento de que a vida possui um sentido? O que leva bilhões de pessoas a acreditarem que sua existência é resultado de um motivo ou vontade? Experimente dizer a alguém que, talvez, a humanidade seja mera coincidência, e está armada a polêmica. Nós nos recusamos a aceitar que somos simplesmente o resultado de bilhões de anos de reações químicas. Temos que ser mais que isso, afinal seres tão especiais, pensantes, capazes de amar, sorrir e elaborar a teoria da relatividade merecem uma origem mais nobre do que o mero acaso.

Indo além, admitir que a vida possui um sentido ou significado implica admitir que existe uma vontade anterior à vida, uma vontade que deu origem à vida. E para haver uma vontade, é indispensável que haja uma entidade que seja possuidora dessa vontade. Entidade essa que é, em última análise, o Criador. E está fechado o círculo vicioso da Religião.

Para a Religião, o sentido da vida é que o Criador esteja reunido com suas criaturas, afim de que essas possam desfrutar a existência em toda a sua plenitude. Porém, por um motivo não muito claro, coube ao Criador manter as criaturas em um patamar inferior à essa plenitude - no caso, aqui na Terra - para que as criaturas pudessem, por meio do aperfeiçoamento pela dor, tornarem-se aptas à vida plena, que só existe no chamado plano espiritual. Pra quê, porra?

Somos narcisistas, mais que isso, somos definidos pelo narcisismo. Nos consideramos especiais e superiores ao resto de todo o universo. Somos o supra-sumo do cosmos, a expressão máxima da existência. Bem, somos isso tudo aos nossos próprios olhos. Portanto, não nos contentamos em apenas existir. Merecemos mais que isso, merecemos um significado, uma razão de ser, um objetivo. Para haver um motivo para nossa existência, é necessário que algo ou alguém anterior à nossa existência tenha desejado e efetuado a nossa criação. E assim nasce Deus. Deus é a manifestação máxima de nosso narcisismo.


Uma existência sem propósito

Indo na direção oposta, admitimos que a existência humana, assim como tudo no Universo, é desprovido de um sentido. Não há nenhuma razão de ser para tudo o que existe. Tudo é apenas fruto do acaso. Não somos especiais para ninguém além de nós mesmos. Que golpe duro no ego! Por isso é tão difícil alguém aceitar essa idéia. Por isso que chega a ser imoral a alegação da inexistência de Deus, pois implica em renunciar a importância cósmica que julgamos possuirmos. Mas, e se for assim? Qual a implicação prática dessa conclusão?

Deixando de lado as implicações morais, acredito que a primeira grande diferença que podemos notar nessa mudança de entendimento é justamente, ao contrário da primeira intuição que se possa ter, a valorização da vida. Se admitimos que a vida que temos é a única vida que teremos e que a morte põe termo à existência, essa vida passa a ter um valor muito maior do que se for encarada como uma simples passagem para outra vida. Todos os nossos esforços tenderão a ser direcionados para sermos felizes aqui, já que não haverá outra chance.

Também acredito que se torna mais fácil aceitar, compreender e trabalhar as nossas limitações e os nossos defeitos, em vez de encará-los como provações místicas ou resultados de uma vontade divina injustificada.

Atribuindo sentido à vida

Muito diferente de descobrir o sentido da vida, é dar sentido à vida. Enquanto tentar descobrir o sentido da vida é admitir que a mesma não nos pertence, e sim a quem lhe conferiu tal sentido, dar sentido à vida, por outro lado, é compreender que nossa importância não vai além da que nós mesmos nos damos e, dessa forma, o melhor que podemos fazer é aproveitar ao máximo visto que não há outra vida para ser vivida depois dessa. Somos livres para dar à vida o sentido que quisermos, inclusive o de crer que somos parte de um projeto superior, mesmo que isso implique em abrir mão do presente em favor de um futuro cuja existência somente pode ser admitida mediante uma fé religiosa.

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