16 de dezembro de 2010

Separados por um topete

Você sabe qual a diferença entre Ari Pargendler e Roberto Justus? O topete.

Enquanto o genro da garota de Ipanema ostenta uma juba prateada de todo o tamanho, o presidente do Superior Tribunal de Justiça do Brasil cultiva uma brilhante careca. Embora os dois sejam tão diferentes nos assuntos capilares, parecem adotar o mesmo discurso com seus subordinados.

Você está demitido!

É óbvio que o famoso bordão imortalizado por Justus em sua versão tupiniquim do reality show americano ‘The apprentice’ é a fala de um personagem. O chefe durão, ríspido e intolerante que demite e humilha seus empregados não é mais que uma farsa, uma atuação cuja finalidade é entreter o espectador. Os participantes que ali estão, e se submetem a tal tratamento, o fazem conscientemente e, diga-se de passagem, ganham muito bem para isso. São personagens também. Estão todos atuando.

Roberto Justus



A vida imita a arte

Por um breve momento, no subsolo do STJ, o presidente daquela côrte foi tomado por um espírito Justiniano que, em vez de lhe dar cabelo, lhe deu um sentimento de ira. Segundo relatos de uma testemunha e da própria vítima, um estagiário negro - escolhido em uma seleção dentre mais de duzentos candidatos, Ari perdeu a compostura ao perceber que, enquanto fazia uma transação bancário no caixa automático, uma pessoa aguardava atrás dele.

Sentindo-se invadido em sua privacidade, embora em local público, pôs-se a esbravejar e a gritar como um ‘coronel’ do século XIX, sempre pronto a fazer uso da chibata. “Sai daqui. Vai fazer o que você tem quer fazer em outro lugar”.

Após ser contestado pelo estagiário, que disse estar aguardando atrás da linha demarcada no chão, deixou a ira transbordar e proferiu a sentença em caráter inquisitório e sumário: “Sou Ari Pargendler, presidente do STJ, e você está demitido, está fora daqui”.

Ari Pargendler



Uma comédia de erros

A situação, lamentável por natureza, torna-se muito mais grave em função das pessoas envolvidas. A agressão partiu de uma das maiores ‘otoridades’ do país e foi contra uma pessoa indefesa, pobre e negra. A cena, antes de ser um fato isolado, é um retrato da sociedade. É a repetição de um cotidiano cruel e sufocante a que as pessoas comuns são submetidas.

Lamentável também é a perpetuação dessa situação patrocinada por quem tem o poder de mudar alguma coisa. Me refiro à gerência da agência do Branco do Brasil, onde ocorreram os fatos. Ao ser comunicada para apresentar as imagens do circuito interno de segurança, que serviriam de prova material do que realmente aconteceu, não forneceu as imagens, alegando que houve falha no sistema de vigilância e nada foi gravado.

Se o agredido fosse o ‘coroné’, ou Roberto Justus, o sistema também teria falhado? E estaria o estagiário em liberdade à essa hora?

Marco Paulo dos Santos

 

 

links externos:

http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,vou-vivendo-doutor-ari,649404,0.htm

http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI4847729-EI7896,00-STF+derruba+sigilo+de+processo+de+estagiario+contra+Pargendler.html

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