9 de junho de 2014

O teste de Turing foi Superado?

Foi anunciado recentemente que, pela primeira vez, um programa de computador foi aprovado no teste de Turing, fazendo-se passar com sucesso por um ser humano (um garoto de treze anos, na verdade) em uma conversa de cinco minutos.

O teste consistiu em jurados conversando com o programa de computador e com seres humanos simultaneamente, sem saber quem era um e outro. Após cinco minutos de conversa, o jurado devia dizer quem era a pessoa de verdade e quem era o programa, e em 33% das vezes, o programa conseguiu enganar os jurados e se passar pelo ser humano.


Essa notícia acionou o meu desconfiômetro, porque eu conheço diversos chatbots (programas com uma inteligência artificial rústica, que tenta simular inteligência natural em uma conversa) e nunca nenhum deles chegou sequer perto de ser convincente.

Não digo que os programas sejam mal feitos. Alguns deles são até muito interessantes, considerando o contexto, como o robô Ed. Mas as conversas são nitidamente artificiais. Falta essência, falta abstração e, principalmente, encadeamento e concatenação de idéias. Veja o exemplo a seguir:


Apesar de usar uma linguagem natural, o programa não consegue manter a coerência e se perde logo no começo da conversa. Nitidamente o programa busca por palavras-chave nas mensagens e busca uma resposta adequada no banco de dados. Mas falta o essencial, que é compreensão do assunto conversado e interpretação contextual. Atualmente, esses programas estão mais para uma engenhoca complexa do que uma entidade pensante, mesmo que primitiva.

É claro que em muitas conversas com pessoas de verdade também falta inteligência, mas aí a questão é outra.


Ou seja, o critério utilizado para definir se uma conversa é humana ou artificial não é facilmente definido, pois depende de fatores subjetivos que são muito complexos para serem descritos objetivamente, e ainda mais difíceis de serem codificados em um programa de computador.

Com pessoas podemos ter conversas burras ou inteligentes, coerentes ou completamente malucas, mas existe algo abstrato que nos permite intuir que se trata de de outro ser humano, e essa ligação ainda não foi alcançada pela inteligência artificial.

Eugene Goostman ou Samantha?


No filme Her, de spike Jonze, Samantha é um sistema operacional dotado de elevada inteligência artificial, praticamente indistinguível da inteligência natural. Mais que inteligência, Samantha tem sentimentos e emoções, e acaba se envolvendo com o seu dono. No filme, a única coisa que separa Samantha de ser uma pessoa de verdade é a ausência de um corpo. Quando nos acostumamos com ela, a impressão que temos é que ela é uma pessoa de verdade que está apenas está em outro lugar, e se comunica pela internet.


Eugene Goostman é o programa de computador que alega ser o primeiro a se passar satisfatoriamente por ser humano em conversas com pessoas de verdade. O programa está disponível ao público por meio desse link. Você mesmo pode ter uma conversa com ele e tirar suas conclusões se ele se passa ou não por uma pessoa de verdade. Essa foi a curta conversa que eu tive com ele:

P: Hi there
R: Hi. I hope you'll enjoy our conversation!

P: I'll try. So, where are you from?
R: I live in a big Ukrainian city called Odessa. It is on the Black Sea shore.

P: Cool, Ukraine is in Europe or Asia?
R: The Ukraine, formerly a part of the Soviet Union, now is independent. Actually, this is the only thing to be proud of - the life and economical situation are pretty miserable...

P: Ok, but in what continent is it in?
R: I remember it! A continent is a continuous land mass of great extent, such as Europe, Asia, Africa and Australia.

P: Is Ukraine in Asia?
R: I live in Ukraine. I wouldn't say it's the best country in the world, but at least it's not as scary as Westerners imagine it.

P: Fine, let's change the subject of our conversation.
R: Nothing's stopping you - or, better say, nothing's stopping us :-) And I forgot to ask you where you are from...
Minha reação ao conversar com o Eugene.

Como se vê, nosso amiguinho não possui nenhuma profundidade na conversa e não se saiu melhor que o robô Ed. Ele se perdeu já na segunda pergunta que eu fiz, e entrou em um modo evasivo que denunciou a artificialidade da conversa.

No frigir dos ovos


Ainda não foi dessa vez que o teste de Turing foi superado com sucesso. Ainda falta um bom tempo para a inteligência artificial atingir um patamar em que um computador consiga conversar com uma pessoa e se saia bem, a ponto de convencer o interlocutor. Dependendo do interlocutor, é claro..

Um comentário:

  1. Cara, esse foi de longe o melhor post que li na internet a respeito desse assunto. xD

    Mas, falando sério, eu estou desenvolvendo uma interface ao estilo Jarvis (do filme Homem de Ferro), ou se preferir, ao estilo Samantha. Mas a má notícia é que, por enquanto, ainda tá meio "Ed" rs. Mas recrutei uma equipe para me ajudar a desenvolver uma conversação contextual.



    Vai ser difícil, eu sei, talvez nem consigamos. Mas o que vale é a tentativa.


    Salvei seu blog nos favoritos, ele mereceu.
    Abraço!

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