Manada
S.f.: 1. Rebanho de gado 2. grupo numeroso de pessoas passivas, que se deixam conduzir sem questionamento.
Todo mundo já assistiu aqueles programas do Animal Planet, que mostra uma manada de antílopes descansando, ou bebendo água na beira do rio, quando de repente um deles começa a correr e então todos os outros saem correndo juntos na mesma direção. Esse é o comportamento de manada, que tem sua razão de ser no mundo animal. Pois se um antílope saiu correndo, é porque avistou algum perigo, provavelmente um leopardo faminto se aproximando doido pra almoçar carne crua.
Essa brincadeira de pique-pega entre o leopardo e os antílopes é muito rápida. Se um antílope vacilar por meio segundo, já era, vira almoço. Então, quando vê que já tem um desesperado correndo feito louco, o melhor que ele tem a fazer é correr também, pois se levantar a cabeça para olhar ao redor, como quem diz “peraí, deixa eu ver por que esse cara tá correndo.” já é tarde demais para fugir.
O mesmo acontece com os quadrúpedes de duas pernas chamados humanos. Imagina que você está na praia, em um estádio de futebol ou no shopping passeando, e do nada surge uma galera – tem que ser muita gente, e não meia dúzia. Na verdade, tem que ser todo mundo – correndo desesperada, gritando e pisoteando os que tropeçam. O que você faz?
- A) Fica parado, pescoçando, tentando ver do que todo mundo foge.
- B) Levanta as mãos e pede calma, pois desespero não resolve nada.
- C) Aproveita a confusão e passa a mão na bunda daquela gostosa que você estava de olho.
- D) Sai correndo também, e deixa pra perguntar depois.
Nessa situação, o efeito manada é o mesmo do mundo animal. Nosso instinto age e somos tomados pelo impulso. Não há tempo para deliberar. Contudo, conosco, ditos racionais, o efeito manada se manifesta de uma outra forma ainda mais irracional. Nós temos a tendência de imitar o que está todo mundo fazendo somente porque… Está todo mundo fazendo!
Foi isso que aconteceu com os caras-pintadas em 92. noventa e nove por cento participou por que era o lance do momento, o um por cento restante participou porque foi manipulado pela oposição ao governo. Foi isso também que aconteceu com a aluna da Uniban que abandou o prédio sob o coro de “puta, puta, puta”. Absolutamente nenhum dos debilóides que aparecem no vídeo gritando e quicando feito macacas no cio sabia o que de fato ocorreu. “O negócio é fazer que nem todo mundo”.
Isso mostra o estado alterado em que ficamos quando estamos em grupo. A tendência quase irresistível de seguir a manada. Está todo mundo correndo, também vou correr. Está todo mundo batendo palmas, também vou aplaudir. Está todo mundo gritando, também vou gritar. Está todo mundo passando merda no cabelo, vou fazer um penteado estilo shit moicano.
E sabendo desse comportamento, pessoas espertas e manipuladoras como políticos e pastores evangélicos usam o efeito manada em seu favor, para conferir autenticidade e autoridade a seus atos mentirosos e desprezíveis. Em um comício é aquela gritaria, aquele oba-oba, pessoas defendendo fervorosamente aquilo que não entendem. Nas igrejas é a mesma coisa, o pastor Ryu solta um shoryuken haddouken e os idiotas todos caem pra trás, aleluia! Esse tipo de manipulação em massa inibe o surgimento do pensamento crítico, pois qualquer questionamento é tido como ameaça ao que todos têm como certo e comprovado.
E assim a vida vai seguindo, com os espertos tangendo seus rebanhos.

Parênteses: Não há como deixar de moralizar o tema. Partimos do pressuposto de que quem não quer ou não pode admirar o mundo está em uma situação reprovável. Particularmente, penso diferente. Se o Narcisista é feliz olhando só a si mesmo o tempo todo, então ele continua no paraíso.
Estou lendo o livro Cinefilô, de Ollivier Pourriol, cuja proposta é justamente despertar o pensamento filosófico que existem nos bons filmes.
E lido dessa forma, o livro me impressionou. E até hoje ele me impressiona e influencia. Esse livro tem um importância tremenda na minha forma de ver o mundo. Para mim não se trata de uma crítica ao comunismo ou ao poder. É maior que isso. É uma crítica à condição humana. É um tapa da cara.
A Revolução dos Bichos me ensinou que a natureza humana é de tal forma que, quando nos deparamos com alguém em desvantagem, nosso impulso é tirar proveito da situação e usar a nossa superioridade para impor nossa vontade. Ser igual não basta, o legal é ser superior.
O ditado acima é muito famoso e tido, como a maioria dos ditados, por verdadeiro. De fato, tenho experimentado mais ou menos isso aqui no Quarta Pessoa. Eu sempre quis escrever algo, um livro, um conto, uma poesia, uma letra de música, uma piada. Qualquer coisa que servisse de veículo para minha forma de ver o mundo. Porém eu sempre esbarrava na dificuldade de expressar com exatidão o que eu sentia.

Em quantas partes se divide a alma humana? De que maneiras nosso humor e nossa índole pode variar em um dia, um ano, uma vida? Somos corajosos, curiosos, amorosos, covardes, egoístas, bons e maus. Tudo ao mesmo tempo, nas mais diversas proporções. Da mesma forma que uma Televisão forma infinitas tonalidades a partir de três cores fundamentais, nós formamos nossos sentimentos mais complexos a partir dos mais simples.
É muito mais fácil sermos sinceros quando estamos anônimos. Sem a preocupação de sofrer algum tipo de represália, podemos expressar verdadeiramente nossos sentimentos e opiniões. Contudo, como se observa no milhões de comentários espalhados pelos blogues, orkutes e youtubes da vida, O comentários anônimos são, muitas vezes, ofensivos. O anonimato é antes de tudo, covardia. E a covardia é a pior das mazelas humanas.
Por outro lado, temos tempo perdido com cenas, no mínimo, estranhas, como toda a sequência da luta de Kurgan contra Sunda (não, não é piadinha infame. É esse o nome do personagem). Vejamos: Temos um cara que, do nada, anda de carro pelas ruas da cidade com um arsenal no banco do carona. Passeando pelos becos, ele avista dois imortais batalhando (não mostra como se encontraram e nenhum dialogo. Estão apenas lutando de espada, do nada) Após arrancar a cabeça de Sunda e ser metralhado pelo maluco do carro, Kurgan sai em fuga dentro de um carro com uma velhinha pendurada no parabrisas. Diabéisso, gente?
Queen
Seria mera coincidência? Acho que não.
Temos bem definidas, e em sua melhor expressão, todas as características que identificam o autor: As referências ao bang-bang, com seus planos abertos e trilha sonora peculiar, a divisão em capítulos, os diálogos demorados e geniais, os personagens cruéis e muita violência.
Bastardos Inglórios é um dos melhores filmes que vi no cinema nos últimos anos. Em uma avalanche de filmes que não acrescentam nada, é gratificante ver um filme de autor com tanto destaque. Trata-se de um bom gole de água gelada em meio a uma causticante jornada no deserto árido dos filmes secos da atualidade. Recomendadíssimo.